APRESENTAÇÃO

Uma das principais questões que tem a atenção dos pesquisadores do NEPE encontra-se juntamente na precisão de uma série de conceitos, cada vez mais em uso, e muitas vezes utilizados de formas equivocadas, em determinados contextos. E a utilização desses conceitos presta a várias confusões, o que nos permite a propor um evento que pudesse dar conta das diversas acepções em que os processos de etnicidades encontram uma interface produtiva. Estamos nos referido aos termos, as noções de identidade étnicainterculturalidade,  pluralidade cultural e transculturalidade entre outros que, às vezes, são compreendidos como sinônimos, mas, na realidade, na sua proposição original, são diferentes. Os diversos pesquisadores dessa temática procuram definir sem ambiguidades esses termos e o ponto de partida para tais esclarecimentos, está a noção de etnicidade ou de identidade étnica, e, a partir daí, especificamente a ideia de cultura. É por demais conhecido os debates conceitual na antropologia, no entanto, ainda há de explorar melhor essa discussão e suas implicações no que diz respeito às nossas pesquisas atuais.
A VI Jornada de Estudos sobre Etnicidade do NEPE, organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) da Universidade Federal de Pernambuco, que agrupa pesquisadores principalmente da região Norte e Nordeste, que pesquisam e trabalham com a temática da etnicidade e temas afins. A I Jornada aconteceu em 2005, tendo como a temática geral as “relações interétnicas” e contou com a presença de pesquisadores das universidades da Paraíba, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Norte, e teve, em especial, a participação do Prof. Roberto Cardoso de Oliveira. A II Jornada teve como tema “as Cartografias da Interculturalidade” e se realizou em 2008. Esta terceira edição das Jornadas de Estudos sobre Etnicidade se realizou nos dias 4 a 6 de novembro de 2009, e agrupou pesquisadores de universidades do Nordeste todo e algumas do Norte, até algumas pessoas da América do Sul (como Uruguai e Paraguai). Nesse caso, vale observar, houve a participação de dois conferencistas do exterior, pessoas conhecidas e muito respeitadas no campo da etnicidade: Prof. Thomas Hylland Eriksen (da Noruega) e o Prof. Miguel Bartolomé (ligado a Instituto de Estudos indígenas no México) (essa participação se tornou possível com o financiamento das agências financiadoras CAPES e CNPq). A temática geral que esteve norteando as discussões sobre a etnicidade estava voltada para o debate contemporâneo sobre as fronteiras da identidade étnica, que envolve uma discussão específica sobre as diversas possibilidades de políticas públicas e uma multiplicidade de atores. Existem vários trabalhos na América Latina, evidentemente, em centros de pesquisas sobre essa questão, que surge inicialmente no contexto interétnico dos modelos organização dos serviços de educação para as populações indígenas. Nesse sentido, esse debate sobre etnicidade estava alinhavado com os debates sobre a interculturalidade e possibilitou a um grupo de pesquisadores, antropólogos, sociólogos e cientistas políticos de produzir conhecimento tendo as regiões Norte e Nordeste como um lócus de investigação. Nessas regiões, como de resto em termos mais gerais, esses conceitos se colocam para a construção de saberes junto aos movimentos sociais, especialmente dos povos indígenas, populações juridicamente conhecidas como “remanescentes de quilombolas”, e minorias étnicas, tais como os ciganos. Produziu-se um debate intenso que permitiu assim uma interface com os diferentes centros de investigação presentes.
A participação de pesquisadores de reconhecimento internacional e a consolidação dos grupos de pesquisa na regiões Nordeste e Norte, podemos afirmar que o evento tem sido um sucesso, extrapolando as expectativas e os objetivos inicialmente previstos. A regularidade prevista para a Jornada é de organizar um evento a cada dois anos. Este intervalo permite um amadurecimento das pesquisas e das reflexões dos pesquisadores na área, sem sobrecarregar sua agenda. A V Jornada de Estudos sobre Etnicidade aconteceu em Recife, nos espaços da UFPE nos dias 16 a 18 de Dezembro de 2013 e contou com a participação de vários pesquisadores da região Nordeste do Brasil que atuam com a questão da Etnicidade. A Conferência de Abertura foi ministrada pelo Prof. Henyo Trindade Barreto (UNB) e versou sobre a as trabalho do antropólogo no campo da Etnicidade em debate no âmbito dos PPGAs das IES federais durante o ano de 2013.
Nesta 6a. edição este evento será de três dias e será organizado pelos pesquisadores do NEPE da UFPE, em colaboração com os pesquisadores de outras IES que estão presentes na Comissão Científica. Esse evento, em suma, ao agrupar pesquisadores que trabalham com a temática da etnicidade buscará o debate sobre as diferenças existentes entre cada um dos conceitos acima referidos dentro da antropologia de identificações. Trata-se de uma antropologia que fundamenta os diversos conceitos em sua semelhanças e diferenças dentro dos processos de criação das categorias socioculturais, e, ainda, investiga seus papeis e suas performances na realidade sociocultural enquanto também ajuda a esclarecer as particularidades dos conceitos em foco. Há um aspecto fundamental na nossa área que é a apropriação dos conceitos por parte do arcabouço legal do Estado (em leis e decretos), por parte das instituições do Estado que escutam as definições e políticas estatais, e por parte de todo uma série de agentes intermediadores e sujeitos (em sua maior parte coletivos sociais) definidos como beneficiários destas leis. Muitas vezes os antropólogos influenciaram diretamente nas definições e nas políticas em curso atualmente. Ou seja, devemos incluir pelo menos duas questões: como os conceitos são apropriados nas leis e pelos diversos atores envolvidos no campo legal e no campo societal em geral; e como os próprios antropólogos são engajados nestes mesmos processos, com papeis que variam entre definidores, militâncias e subalternizados. Em função da importância desta problemática resolvemos dar um enfoque ao próximo evento que amplia esta problemática para Processos identitários, Justiça e Direito. O campo da lei deve ser abarcado pela noção mais ampla de Justiça (suas instituições, funcionamento real, os “discursos”, os auto-intulados “operadores da lei”, etc.) e, naturalmente, como se articula com a noção de Justiça Social (e todas as suas implicações e em especial a relação de tudo isso com os chamados “movimentos sociais”, tanto como termo nativo quanto termo analítico). Algo que deve merecer especial atenção é a recepção, apropriação e aplicação (transformada) da terminologia antropológica por diversos atores sociais e como a antropologia deve lidar com este fato – tanto com vistas ao diálogo com os atores sociais, quanto em relação à separação deste uso do seu uso na sua prática analítica na esfera da antropologia propriamente dita. A recepção e concepção dos direitos oficiais – coletivos, sociais, culturais, propriedades coletivas – por parte das categorias socioculturais definidos com seus beneficiários merece atenção especial. Nesse sentido, esse evento procura suprir uma necessidade de interação dos diversos pesquisadores da área buscando, desse modo, a produção de conhecimento especifico sobre uma realidade local e regional que procura interfaces com a produção desses conhecimentos em outras regiões do Brasil. Articulando-se, ainda, com temáticas afins e não deixando-se articular com o conhecimento teórico internacional. O NEPE tem sido o catalisador, na UFPE, para essa temática. Como se articula com programas mais antigos (em especial o PINEB - UFBA) e programas mais novos na região (p.ex. o LEME – UFCG; o curso de ciências sociais na UPE), o evento cumpre importante papel.
A VI Jornada tem como objetivo: congregar pesquisadores da temática da etnicidade e uma gama de temas afins dentro da mesma universidade e entre várias outras instituições, e visa organizar um debate em torno das principais questões que envolvem o conceito de etnicidade e, de modo mais amplo, outros processos de identificações – de todo uma série de diversos tipos de categorias socioculturais e os seus concomitantes movimentos sociais. No caso, o enfoque particular destas Jornadas será sobre questões de direitos, sociais, culturais, coletivos, sem esquecer a questão de direitos a propriedade (imagem, etno-conhecimento, patentes).
Nesse sentido este evento tem como objetivo específico tornar possível a realização de uma Jornada de Estudos a ser realizada no âmbito da Universidade Federal de Pernambuco, e a produção de conhecimento sobre uma ampla temática que pode redundar em discussões bem frutíferas que disseminam, consolidam e avançam o conhecimento dos participantes. Tais avanços implicam em possibilitar uma série de efeitos possíveis multiplicadores, tal como, por exemplo, em artigos e livros de melhor qualidade. Sem deixar de mencionar que a nossa relação com a sociedade e seus segmentos é objeto de fundamental reflexão que também pode se refletir numa relação mais crítica, refletida e aprimorada.

Resultados Esperados

a) Manutenção e ampliação das atividades do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade; 
b) Produção e divulgação de conhecimentos específicos relacionadas às temáticas debatidas no evento (com efeitos no campo e sua relação com a sociedade); 
c) Organização desta consolidação e avanço do conhecimento em diversos produtos; um dos quais concerne vários tipos de publicação sobre a temática dos pesquisadores participantes, podendo se organizar uma coletânea específica como os textos das apresentações e os debates dos grupos de trabalhos;
d) Articulação das instituições de ensino e seus grupos de pesquisas na área de ciências sociais; 

e) Articulação com a Rede Latino-americana de Antropologia Jurídica com os pesquisadores e instituições participantes. 

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