I - Identidade, Etnicidade e Relações
Interétnicas
Coordenadores: Carmen Lúcia Silva
(UFPI) e Jamilly Cunha (UFPE)
1. Título: YAWANAWA : RELAÇÕES INTERÉTNICAS E RESGATE CULTURAL
Nome do proponente: Virgilio de A. Bomfim
Instituição: UFPE
Resumo:
Os Yawanawa vivem nas cabeceiras do rio Gregório no Estado do Acre,
município de Tarauacá. Os primeiros contatos com os 'brancos' aconteceram com a
chegada dos caucheiros e seringueiros vindos do Peru e do Brasil, por volta de
1900. Na década seguinte estabeleceram relações pacíficas com os patrões
seringalistas realizando abertura de ramais, roçados, caçando e pescando em
troca das cobiçadas mercadorias do barracão. Em meados de 1970, com o declínio
final do valor econômico da borracha suas terras foram vendidas pelos patrões
para a empresa Paranacre. Esta explorou os indígenas que antes trabalhavam
mediados pela chefia tradicional, sem interferência dos patrões, passaram a
trabalhar como seringueiros para ter acesso aos recursos do barracão sendo
inclusive proibidos de fazer os roçados sem autorização. Na mesma década o
CPI-AC iniciava sua luta a favor dos direitos indígenas. O antropólogo Terri
Aquino estava mapeando as terras indígenas da região quando entrou em contato
com os Yawanawa. Os Yawanawa denunciaram os abusos da empresa e, associados ao
CPI e o CIMI garantiram a demarcação de um território, a expulsão dos patrões e
a criação de uma cooperativa. Biraci Brasil, sobrinho do cacique, foi para a
cidade estudar e iniciou sua trajetória como liderança indígena junto ao CPI.
A articulação com órgãos estatais, antropólogos e ONGs possibilitou a
inserção no movimento indígena redirecionando a atenção das lideranças para
novas possibilidades de sustento e suporte da aldeia nas necessidades que se
estabeleceram após o contato. Através de Biraci Brasil foi selado na Eco-92 um
acordo econômico com a AVEDA, empresa norte-americana que deu subsídio para os
Yawanawa iniciarem uma plantação de urucum dentro dos princípios ecológicos.
Com o apoio governamental e dos lucros da parceria a comunidade iniciou um
projeto de revitalização cultural, através de escolas indígenas, documentários,
livros e o etno-turismo.
Desde 2001 que a aldeia nova esperança promove o festival Yawa, como
parte integrante de um projeto denominado resgate de práticas culturais,
iniciado sob a liderança do atual cacique Biraci Nixiwaka.Na festividade os
Yawanawa recebem turistas de vários países interessados em conhecer e partilhar
de seus costumes tradicionais. São realizadas danças, brincadeiras e rituais
representativos da cultura Yawanawa. O intuito da pesquisa é compreender a
revitalização cultural Yawanawa a partir de teorias da antropologia sobre
cultura, identidade,tradição e relações inteétnicas.
2. Título: O Povo Karuazu e as redes de articulação interétnicas
no Sertão de Alagoano: suas estratégias de reorganização étnica na garantia dos
direitos.
Nome do proponente: Daniela Oliveira da Silva
Instituição: UFAL
Resumo:
O povo indígena Karuazu está localizado no município de Pariconha no
Sertão Alagoano, são descendentes do tronco Pankararu, sendo identificados como
"Ponta de Rama". Seu aparecimento enquanto comunidade indígena foi no
ano de 1998, reconhecidos pela Funai e sociedade nacional em 1999. O
ressurgimento dos povos indígenas em Alagoas aconteceu no processo de
etnogênese, na busca pelo reconhecimento e na reinvindicação pela garantia de
direitos enquanto povos indígenas, que resiste, para manter suas origens,
rituais e histórias como povos diferenciados. Atualmente, o Povo Karuazu está
organizado em duas aldeias: Tanque e Campinhos num total de 280 famílias, desde
seu reconhecimento, houve pouco avanço, pois continuam na conquista de direitos
à terra, saúde, educação especifica e diferenciada. A construção da identidade
é muitas vezes negada pela sociedade, em vista de sua aproximação com os nãos
indígenas.
Assim como, a maioria dos grupos indígenas de Alagoas são vistos como
povos resistentes, em oposição ao que se esperava a sociedade nacional, que os
indígenas se integrassem a sociedade envolvente, entretanto eles lutam para
mantém suas tradições. A questão do ressurgimento indígena fundamenta-se na
busca dos direitos e, além disso, na autoafirmação da identidade e no
reconhecimento de seus rituais, cantos e danças, reconstruindo assim seus costumes
e tradições.
O fluxo de informações nas relações sociais fortalece os processos de
diferenciação étnica, onde códigos e condutas são compartilhados, assim como é
visto no movimento de emergência étnica do Nordeste. A maioria dos povos
indígenas do Nordeste resistem e autoafirmam suas identidades através de uma
rede de articulação interétnica, que envolve os sistemas políticos, de
parentesco e ritualísticos.
3. Título: “Ensino Superior e Etnicidade como desafios da Educação”
Nome do proponente: Polyanny Lílian do Amaral Braz; Camila
Vasconcelos Meneghini
Instituição: UFPE
Resumo:
Apesar de muitos acreditarem, ainda sob uma perspectiva preconceituosa,
que as populações indígenas estão em lugares distantes e de difícil acesso à
sociedade, os números levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE – nos revelam que eles tem se tornado um público cada vez
mais expressivo em questões numéricas. Em 2010, o IBGE aponta que existem 817
963 autodeclarações indígenas em todo território Nacional. Eles correspondem a
uma proporção de 0,44% da população brasileira. A população indígena também tem
se mostrado presente em áreas urbanas de todo o país, somente nas cidades são
quase 384 mil. Essa presença fomentam também questões sobre a necessidade das
políticas públicas para essa população, além de suscitar novos desafios às
questões acerca da Etnicidade e da Educação. Destarte, sublinhamos a
importância da compreensão dos processos educacionais na atual conjuntura
histórico-cultural, que tem suscitado novos desafios aos pesquisadores da
educação e aos educandos.
A partir da hipótese de que o ambiente escolar é diversificado, podemos
apontar para a diversificação do "público escolar", uma vez que o
Brasil é um país multicultural, com diferentes populações étnicas – a exemplo
dos negros, quilombolas e indígenas. Partindo do pressuposto que a Educação,
seja no Ensino Superior ou no Ensino de Base, deve ser inclusiva, refletimos,
então, sobre como se poderia perceber e lidar com tais diversidades? Diante
desta reflexão, propomos identificar os desafios da Educação Superior com
respeito à diversidade cultural, a partir das questões voltadas para os povos
indígenas, analisando os direitos constitucionais dos grupos étnicos e
apontando as principais dificuldades enfrentadas por estes povos. Para tal
lançamos mão de um levantamento bibliográfico e coleta de entrevistas em
jornais e revistas com estudantes indígenas.
4. Título: Para pensar identidade étnica e etnomídia em
contexto indígena – O estudo de caso Pankararu.
Nome do proponente: Mariane Cândido
Instituição: UFPE
Resumo:
Este trabalho visa discutir à luz da etnologia indígena as atuais formas
de afirmação identitária que podem ser encontradas no acesso e uso das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC's) por indígenas tentando, desta
forma, compreender a etnomídia como conceito duplamente pertinente para o que
aqui se intenta. Primeiro porque está imbuído de uma característica política
contra-hegemônica no que se refere aos valores convencionados a respeito da
identidade étnica e também porque encerra um aspecto etnológico, ou seja, a
mídia na visão dos indígenas. Reside aqui, portanto, um interesse em enriquecer
o debate sobre o acesso às TIC's, na medida em se faz premente problematizar a
ideia comumente aceita e estigmatizada do ser índio, que consiste em
considerá-lo inapto a manipular e fazer uso apropriado das tecnologias
disseminadas nos meios urbanos. Assim como se mostra urgente, nesse contexto,
discutir sobre os conceitos de tradicional e moderno que tendem a ser colocados
como opostos irreconciliáveis. A válvula propulsora desta reflexão, reside na
permanência dos estereótipos no senso comum que tentam fustigar o modus vivendi
encontrado nas comunidades tradicionais quando estas têm contato com certos
valores da modernidade. Mas, em se tratando das vicissitudes humanas é possível
afirmar, sob uma abordagem antropológica, que compondo esta nova forma de
mostrar-se ao mundo, de afirmar-se, o indígena, não se arrisca em ser espoliado
de sua própria cultura. O que se observa, é um alargamento deste movimento, no
que parece ser uma busca por, através também deste meio, se inserirem como
agentes diretos, nas questões políticas, sociais, econômicas e culturais em que
se encontra o Brasil. Assim sendo, é possível pensar o atual contexto em que se
dá o uso de aparatos tecnológicos conectados Internet por alunos e professores
das escolas indígenas Pankararu, em Pernambuco.
5. Título: “Alcançando novas tribos até que a última seja alcançada”:
Explorações sobre a atuação missionária com povos indígenas
Nome do proponente: Jhéssika Angell Alves e Silva
Instituição: PPGA/UFPB
Resumo:
Este trabalho procura refletir atuação missionária enquanto uma tradição
de conhecimento que está vinculada aos povos indígenas e que produziu
transformações e questões ao cotidiano dessas populações. Desse modo, busco
pensar os discursos e práticas desses atores, refletindo como estes narram sua
história e atuação, tendo em vista que a antropologia ocupa um papel
significativo nesse contexto, visto que a antropologia, pensada como um
conhecimento instrumental que contribui para o processo de compreensão dos
grupos humanos, tem sido utilizada por diversos órgãos visando o
aperfeiçoamento nos modos de lidar com o outro, principalmente nos contextos
coloniais, no entanto, ela é utilizada a partir da compreensão que se tem do
que seja a antropologia e sua expertise. Nesse sentido, esta área de
conhecimento se encontra num contexto maior de disputas em torno de quais são
seus sentidos, expectativas e definições. Partindo desse quadro, o objetivo do
presente trabalho é um esforço inicial de descrever como os missionários, mais
especificamente da Missão Novas Tribos do Brasil, tem se utilizado do
conhecimento antropológico na sua atuação com os povos indígenas. Aqui,
objetiva-se tratar a atuação missionária como parte constitutiva de um campo
político, desta forma, busco mapear e pensar como e onde a antropologia é usada
no trabalho missionário e assim refletir sobre as potencialidades e limites
desse fazer, que, como colocam os próprios missionários é pensado enquanto “uma
antropologia aplicada”. Este esforço compreensivo se dá através da exploração
de publicações e entrevistas, mas principalmente a partir do trabalho de campo
realizado no Centro de Treinamento Missionário Shekinah da MNTB, procurando
esmiuçar sobre quais bases são pensadas as relações da Missão com a
antropologia.
6. Título: O Campesinato e Suas Fronteiras Étnicas: conflitos fundiários
entre Projetos de Assentamento (PAs) e Terras Indígenas (TIs) no Nordeste
brasileiro
Nome do proponente: José Luís Caetano da Silva
Instituição: UESB
Resumo:
Intencionar-se-á, neste projeto cruzar duas temáticas pouco discutidas,
quer na problemática teórica das classes sociais, quer nos estudos de
campesinato; a saber: a clivagem intra-classe trabalhadora e a diferenciação
étnica interna ao campesinato. Um tema clássico da teoria social, muitas
vezes tornado ilegítimo a priori, nas análises sobre a questão
agrária, nacional centradas na proletarização do campesinato ‘boia-fria’ ou na
figura do pequeno produtor rural, também denominado camponês ou lavrador. Os
antropólogos, escudados na tradição da sua disciplina, já há algum tempo
“...têm insistido em denunciar a falácia da modernização homogeneizadora e em
afirmar a presença crucial do pequeno produtor entre nós” (VELHO, 1980:157,158,
168). O approach para tal intento será a etnografia de
conflitos fundiários provocados por sobreposições de PAs e TIs no Nordeste
brasileiro. A oposição entre índios e não-índios traz o componente étnico para
o entendimento dos conflitos internos à classe trabalhadora e da diferenciação
campesina. Tais conflitos serão tratados como expressão da definição de
limites políticos, econômicos, sociais e étnicos e sociais entre campesinos.
Neste levantamento preliminar, foram selecionados quatro casos no Nordeste: o
primeiro a disputa entre Pataxó meridionais e assentados no Extremo Sul Baiano,
um segundo caso será a disputa entre grupos Tabajara da Paraíba e do Ceará e
assentados em Alhandra-Mucatu (MEDEIROS 2011), outro envolve os Tremembé e
assentados no Ceará (LOPES, 2013) e finalmente o Maranhão onde famílias
assentadas ocupam terras dos Awá (INCRA, 2014). Tais casos relacionados em
diferentes estados do Nordeste possuem um contexto socioeconômico e cultural
semelhante apesar da enorme distância entre os extremos sul e norte e de
diferenças culturais.
7. Título: Imigrantes palestinos, identidades brasileiras
Nome do proponente: Hissa Hazin
Instituição:
Resumo:
Na última década do século XIX e nas
primeiras décadas do século XX, centenas de palestinos cristãos, quase todos
provenientes da cidade de Belém, imigraram para o Nordeste do Brasil. A maioria
se estabeleceu em Fortaleza e em pequenas cidades do interior do Ceará, Piauí e
do Maranhão. Nos anos seguintes, a maior parte destes imigrantes voltou a
migrar, estabelecendo-se em definitivo em Recife e Natal. Por essa razão,
Recife possui hoje a maior ‘comunidade’ de imigrantes e descendentes de
palestinos cristãos do Brasil, estimada entre cinco e dez mil indivíduos. Mas,
apesar da relevância numérica dessa ‘comunidade’, onde estão esses palestinos
que ninguém vê, ninguém ouve, ninguém conhece?
Esse questionamento
emergiu há poucos meses atrás, em de julho de 2014, quando o mundo presenciava
ao ‘vivo’ pela televisão o massacre de centenas de palestinos na faixa de Gaza
e todos ficaram estarrecidos ao perceberem que a maioria dos mortos eram
crianças, mulheres e idosos. Dias depois, um grupo de alunos da Universidade
Federal de Pernambuco convocou a população do Recife para um debate e para
sugerir medidas práticas para mobilizar a sociedade local e protestar contra
mais este ‘genocídio’. Compareci como ouvinte, e na condição de neto de
imigrante árabe, fiquei perplexo ao constatar que além de mim e um dos
debatedores, não havia mais nenhum descendente de palestino entre os presentes
ao debate.
Sendo membro dessa comunidade, às vezes me surpreendo com essa
indiferença (para não falar de omissão) que nos torna praticamente “invisíveis.
Por que a comunidade árabe de Recife não compareceu em massa à convocação dos
estudantes? Ao que parece, os filhos, netos e bisnetos dos imigrantes já não se
identificam como palestinos. Terão sido assimilados? Nesse caso, o que teria
acontecido com esse grupo étnico para ele ter sido assimilado tão rapidamente?
8. Título: PROCESSOS DE MOBILIDADE A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS SOCIAIS ENTRE OS
CIGANOS CALON DE SOUSA (PB).
Nome do proponente: Jéssica Cunha de Medeiros
Instituição: UFPB
Resumo:
Tendo construído um trabalho junto a uma comunidade cigana em Sousa
(estado da Paraíba) durante os últimos cinco anos, desenvolvo uma pesquisa que
teve por foco uma investigação sobre o modo pelo qual os ciganos que aí vivem
vêm lidando com o desafio de estar nesta cidade. Percebendo de maneira geral
que aqueles que interagem com os ciganos tendem a encará-los enquanto nômades e
os que estudam tendem a categorizá-los enquanto nômades ou sedentários, o que
parece implicar em uma situação de cobrança que se impõe aos próprios ciganos.
Por essa razão, a proposta é considerar como a mobilidade se constitui entre
esses ciganos e como historicamente vem se instaurando e sendo significada.
Como uma forma de desenvolver essas questões, me debrucei na forma pela qual
esses ciganos representam essas mobilidades, como são pensadas, vividas e
administradas pelos mesmos. Me parecendo que não há um único fator ou mesmo uma
única causa que produzam as mobilidades, mas circunstâncias que se combinam e
se articulam para gerar tais processos. Assim, os ciganos parecem utilizar de
estratégias distintas e diferentes motivos que os levam a esse movimento. Por
mobilidade compreendo como ação, como a capacidade de se movimentar e as
possibilidades que fazem essa movimentação, onde significados, normas, valores
e vínculos estão entrelaçados. Reflito assim, como a mobilidade dos ciganos
Calon de Sousa (PB) se instaura ao longo dos espaços, lugares e território.
9.
Titulo: Refletindo Infância e Educação com os Calon no Vale do
Mamanguape-PB.
Nome
do Proponente: Edilma do Nascimento J. Monteiro
Instituição:
PPGAS/UFSS
Resumo:
Este trabalho se propõe a refletir sobre a
continuidade duma pesquisa iniciada no Mestrado, a qual buscou compreender a
concepção de infância entre os ciganos Calon no Vale do Mamanguape- PB1 .
Continuar a pesquisa sobre a infância entre os ciganos, enfatizando neste
momento a importância de ampliar a pesquisa com/sobre as crianças ciganas para
ir além do conhecimento sobre a noção de infância 2 nesse grupo. As reflexões
teóricas partem dos escritos da antropóloga, Tassinari (2009) que evidencia nas
leituras a questões da educação na forma que tenho observado em campo. Penso
que, para além das generalizações, precisamos conhecer as especificidades sobre
educação e suas variáveis entre grupos específicos. No caso dos ciganos, bem
como do contexto etnográfico que tenho vivido as preferências mostram-se
singulares quando tratamos de educação e aprendizagem. Durante as idas a campo,
percebi que, quando falamos sobre educação, nem sempre podemos compreendê-la
como sinônimo de escolarização. Para os ciganos, e entre eles, as formas de
aprendizagem são específicas e geralmente acontecem no interior do grupo. A
pesquisa tem buscado compreender, nesta comunidade, a perspectiva das crianças
sobre educação e aprendizagem, através de uma análise do contexto social em que
são socializadas, e aprendem a se verem como “ciganas” e viverem como tal. Para
isso, a investigação busca conhecer os elementos presentes nas suas formas de
identificação coletiva, como se dá a produção da identidade cultural, e como
ocorrem os processos de aprendizagem entre esses ciganos, no Vale do
Mamanguape- PB
II – Conhecimentos Tradicionais e Meio
Ambiente;
Coordenadores: Sérgio Dantas (Nepe/UFPE)
e Rita de Cássia Neves (UFRN)
1. Título: Saberes tradicionais e a narrativa pesqueira na
constituição da Reserva Extrativista Acaú-Goiana
Nome do proponente: Eduardo Jorge do Nascimento e Gilberto
Gonçalves Rodrigues
Instituição: UFPE
Resumo:
O equilíbrio de um território tradicional resulta da construção social
em que as normas e princípios orientadores do acesso e uso dos recursos
naturais sejam incorporados pelos atores locais de forma que estes assumam as
tomadas de decisões e as estratégias de ações relativas aos processos de
desenvolvimento regional. Seguindo esta premissa, nos litorais de Pernambuco e
da Paraíba, a população de pescadores artesanais que perfazem a Reserva
Extrativista Acaú-Goiana formalizada no ano de 2007, particularizam-se pelo seu
vasto conhecimento da realidade natural, pautadas por práticas sustentáveis
coletivas e saberes próprios no manejo dos recursos naturais que dispõem. Dito
isto, os conhecimentos adquiridos com o passar das gerações sobre o manejo
homem/mar criaram um vínculo de pertença sociedade/natureza a qual mesmo
ameaçado pelos conflitos socioambientais que cada vez mais se estabelecem na
região, resulta hoje no trabalho, na moradia e na reprodução do modo de vida
tradicional dessas comunidades. Entendido nesse contexto de construção social
do espaço habitado, o presente trabalho objetivou analisar através da pesquisa descritiva
qualitativa, o reconhecimento ecocultural dos saberes tradicionais que
fundamentam a constituição da Resex. Desse diálogo, resulta o entendimento de
que o território fora apropriado primeiro pelas comunidades não como espaço a
ser domesticado, mas antes sim como território que lhes fornecessem os meios de
subsistir, concorrendo para o fortalecimento de seus laços com o mar, através
da utilização de tecnologias de baixo custo e impacto insignificante do ponto
de vista predatório sobre o meio ambiente. Contudo, salienta-se o período atual
de resistência estabelecido após a massiva interferência política/econômica de
estruturas capitalistas predatórias que se instalam na região (re)significando
o momento de embate por reconhecimento e autonomia tradicional, qual seja
fundamente a reordenação ecocultural do território estabelecendo diretrizes que
fundamentem a utilização e permanência de sua histórica população.
2. Título: Saberes e Práticas Tradicionais de Cura Entre os Pankararu
Nome do proponente: Ericka Cariri Costa
Instituição: UFPE
Resumo:
O presente trabalho (subprojeto) tem como objetivo desenvolver parte do
projeto “Saberes e Práticas Tradicionais de Cura entre os Indígenas de
Pernambuco” no que se refere à importância das práticas de cura cotidianas;
demonstrar como suas representações reafirmam a etnicidade e a coesão social
dos povos indígenas do Estado, com ênfase no povo Pankararu. As práticas
tradicionais de cura e suas respectivas manifestações podem ser de grande
importância para o entendimento de como a identidade é (re)valorizada, uma vez
que é entendido, muitas vezes, pelos índios, como um elemento de união e
fortalecimento da identidade, valorizando a ancestralidade e mantendo a coesão
destas sociedades através de um “sentimento de pertencimento a um destino
comum”. Para atingir esse objetivo, em um primeiro momento, se procurará
através da literatura existente sobre os povos indígenas identificar os
processos de emergência étnica dos povos indígenas de Pernambuco com ênfase na
etnia Pankararu, fazendo referência às memórias e as tradições dos povos
indígenas. Em seguida, através de entrevistas com representantes indígenas
serão coletadas situações sobre as práticas e experiências religiosas. A
sistematização das informações possibilitará uma análise dos mesmos visando uma
melhor compreensão das visões indígenas acerca da religião. As técnicas de
coleta de informação estão baseadas nas orientações do campo disciplinar da
antropologia. Além de um amplo levantamento da bibliografia existente a
respeito da temática, tomando como referência o povo Pankararu, serão
realizadas visitas na aldeia Pankararu, bem como a alguns povos indígenas para
colher informações e identificar de que maneira as especificidades das práticas
religiosas dos índios de Pernambuco servem como elemento de reafirmação de sua
etnicidade.
3. Título: Relações intermédicas na zona de contato entre os saberes médicos
tradicionais Fulni-ô e a biomedicina
Nome do proponente: Palloma Cavalcanti Rezende Braga
Instituição: UFPE
Resumo:
A proposta pretende discutir a concepção dos índios Fulni-ô sobre o
corpo e as práticas de autoatenção utilizadas na prevenção e no tratamento de
doenças, observando as relações intermédicas estabelecidas. Por autoatenção nos
referimos às representações e práticas que a população utiliza no nível do
sujeito e grupos sociais para diagnosticar, explicar, atender, controlar,
aliviar, aguentar, curar, solucionar ou prevenir os processos que afetam sua
saúde em termos reais ou imaginários, sem a intervenção central direta e
intencional de curadores profissionais, ainda quanto estes possam ser a
referência da atividade de autoatenção (MENENDEZ, 2013: 198). Aqui se aplica
‘relações Intermédica’ no sentido da incorporação da biomedicina no universo
sóciomédico Fulni-ô, por meio de um processo de atualização e transformação dos
sistemas médicos (FERREIRA, 2003: 66).
Para compreender os cuidados com o corpo no ambiente Fulni-ô é
necessário considerar a importância do ritual do Ouricuri na manutenção do
grupo e no entendimento sobre o mundo da vida. Em um sentido amplo, a saúde é
conservada a partir de uma postura que esteja em consonância com os preceitos
do ritual do Ouricuri e da cosmologia Fulni-ô (SOUZA, 2007: 58). Existe a
certeza entre os indígenas de que seguir os ensinamentos dos
ancestrais imbrica proteção contra os maléficos do mundo, sobretudo contra
as enfermidades. Esses ensinamentos integram ao contexto da religião particular
e moldam a organização social Fulni-ô. Assim, quando surgem problemas de saúde
na aldeia, os índios entendem, muitas vezes, que são consequências do
comportamento das pessoas para com as regras religiosas. Relações familiares,
sangue e fluidos corporais são identificados como agentes nesse processo. Ao
observarmos a conexão presente entre saúde, religião e ensinamentos dos
ancestrais no entendimento Fulni-ô, podemos inferir que o grupo associa
aspectos da biologia, da religião e do conhecimento advindo dos ancestrais.
4. Título: Pankararu do sertão pernambucano: Relação entre Saúde e
Serviços Ambientais
Nome do proponente: Ana Letícia Veras
Instituição: UFPE
Resumo:
Este tem como objetivo explanar a relação entre os serviços ambientais e
saúde no povo indígena Pankararu, demonstrando a percepção nativa da
importância da manutenção e conservação da natureza para a sobrevivência
cultural e reafirmando a necessidade do reconhecimento territorial como meio
legal fundamental para manter o contato e as inter-relações deste povo com o
ambiente sagrado.
No contexto Pankararu há marcos geográficos imprescindíveis para sua
cosmologia: as cachoeiras de Paulo Afonso e Itaparica e a Serra da Borborema.
Estes locais são considerados sagrados e aparecem como protagonistas cultural,
pois através de seus serviços ambientais, concretiza-se rituais sagrados,
medicina tradicional e o contato com os Encantados, fundamentais para a
constituição cultural e concepção dos conceitos de “saúde” e “doença”,
refletindo na manutenção da saúde destes indivíduos.
Entretanto, com a construção das Hidrelétricas de Paulo Afonso e
Itaparica, estas cachoeiras ficaram submersas pelo lago da barragem de
Itaparica, ocasionando uma enorme perda para os rituais, crenças e tradições
dos Pankararu.
A ausência de reconhecimento territorial legitimou a inexistência de
políticas de manutenção e conservação, assim como a implantação de obras que
reconfiguraram a área. Pois, apenas a partir da regulamentação territorial a
responsabilidade pela gestão deste passa a ser definida, como afirma a Política
Nacional de Gestão de Ambientes e Territórios Indígenas (PNGATI).
Portanto, as perdas dos serviços ambientais culturais das cachoeiras de
Paulo Afonso e Itaparica repercutiram diretamente na saúde, pois o contato com
os Encantados é imprescindível para a saúde Pankararu, já que estes possuem
grande sabedoria e conhecimento a respeito das ervas medicinas, assim como são
os indicados para darem diagnósticos e tratamentos.
Conclui-se a importância da autonomia indígena na gestão de seu
território, já que a depender da gestão pode-se evitar episódios de violência
como o citado, assegurando a a sobrevivência cultural, física e biológica
destes povos.
III – Museus, Coleções e Patrimônio
Cultural
Coordenadores: Alexandre Gomes (UFPE) e
Nilvânia Barros (UFAM)
1. Título: ENTRE MUSEUS E ÍNDIOS
Nome do proponente: Nilvânia Mirelly Amorim de Barros
Instituição: UFAM
Resumo:
Aqui, nos depararemos com os artefatos Timbira da Coleção Etnográfica
Carlos Estevão de Oliveira e suas potencialidades, com o objetivo de
compreender a dinâmica entre coleções etnográficas, memória e mercadoria,
através de duas perspectivas, a do museu enquanto instituição e a dos povos
indígenas. Entre outros objetivos, temos a contextualização desses objetos, com
ênfase na investigação sobre a memória e apropriação desses objetos; e a
análise do ponto de vista dos índios Canela das ações na produção de objetos
para coleções e museus. Contextualizar esses objetos, recolhidos há mais de 70
anos, considerando determinados contextos cotidianos e/ou rituais dos Timbira,
é uma tentativa de reconhecer sentidos e potencialidades atuais de uso, na
acepção de produzir vida e significado às peças, já que tais artefatos
representariam marcas de identidade e registro de momentos histórico-cultural
do grupo. A metodologia contempla tanto o levantamento documental em arquivos,
quanto dados obtidos através dos objetos, do vivido e observado, das
entrevistas e coleta de campo no trabalho junto com os povos indígenas e as
instituições museológicas em uma constante relação e cruzamentos. Apesar da
produção acadêmica sobre as potencialidades dos Museus e de um atual processo
de estreitamento de suas relações com povos indígenas - este agora também como
agente e não apenas como sujeitos -, observamos pouca ênfase na circulação dos
objetos, especialmente na relação de troca de bens dentro de estudos que
abordam a temática das relações interétnicas. A proposta desse trabalho que
apresento é abordar as experiências vividas e questões salutadas durante a
primeira etapa dessa pesquisa.
2. Título: Inventário participativo do Povoado de Tupy
Nome do proponente: Maria Amanda Vitorino da Silva
Instituição: UFPE/Agreste
Resumo:
O inventário participativo é um importante ferramenta de pesquisa, para
conhecimento e aprofundamento da história de um povo, pois possibilitar coletar
informações e democratizando as fontes e os seus autores, permitindo que cada
população articule suas histórias, contribuindo para uma nova memória social, e
salvaguardando através deste processo, seus valores e sentidos, podendo
documentar e registrar seu patrimônio histórico cultural, fortalecendo o
sentimento de pertencimento e cidadania. Assim proponho inventariar o povoado
de Tupy distrito da cidade de Canhotinho que fica a 15 km de da mesma,
localizada no agreste de Pernambuco, cuja peculiaridade do nome e sua geografia
entre serras, e relatos historiografia como a dificuldade de povoamento em
virtude do Quilombo de Palmares, trazem pistas sobre sua história, fazendo uso
do relatos dos mais velhos e com a participação da comunidade e apoio do grupo
escolar Manoel Tenorio Cavalcante, capacitaremos através de um mini curso de
inventário participativo os alunos desta escola, para iniciar a coleta e
Sistematização deste material, para construção de um espaço de memória nesta
localidade.
3. Título: Deslocamente de objetos e coleçãos etnografica
carlos estevão
Nome do proponente: Yale Rayane Silveira
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco
Resumo:
Este projeto de pesquisa tem como objetivo saber sobre as três dimensões
que são importantes no processo de organização e divulgação de coleções
etnográficas e essas dimensões foram exploradas por Berta Ribeiro e Lúcia Van
Velthem (1992) e a implicação que o objeto etnográfico sofre em seu
deslocamento de campo. A primeira dimensão é ao colocar os objetos ao lado uns
dos outros não só pretende-se apresentar os aspectos da cultura de um
determinado povo, mas também construir uma interpretação sobre a cultura
daquele povo, a segunda seria aquela que vem da perspectiva do colecionador, ou
seja, aquele que agrupou os objetos de uma determinada coleção e a terceira
sobre os objetos das coleções etnográficas que se encontram nos aspectos da
restauração onde se busca sobre tudo obter uma estratégia de conservação de
materiais biológico tais como argila, cerâmica, arumãs, cipós e penas. Os
objetos etnográficos fazem parte do cotidiano das relações sociais. As coleções
de objetos etnográficos constituem um meio de entender e se relacionar
com o passado, coletivo e individual e com poder de sua influencia no
presente e no futuro. O Museu, com seu acervo, te um papel politico, ao
representar a sociedade através dos sentidos quem impregnam suas coleções. Os
objetos etnográficos possuem uma autonomia e provocam uma sedução, seja ela por
parte da sua beleza ou pelo reconhecimento étnico impresso em sua estética. O
objeto assim está sujeito a uma nova analise, a um novo reconhecimento,
diferente daquele com qual ele “nasceu” ou foi criado. O processo de
deslocamento dos objetos materiais, que antes fazia parte do cotidiano de um
povo, para depois na condição de objetos etnográficos fazer parte de um espaço
público ou privado de uma coleção, carrega em si além de uma mudança de espaço,
alterações e mudanças em seu próprio lócus.
4. Título: Memória Negra nos Museus de Recife (1930-1990)
Nome do proponente: Vanessa A. Marinho
Instituição: Paço do Frevo
Resumo:
A partir da compreensão da memória como elemento de construção de
identidades e dos museus como lugares de memória, este trabalho tem como
objetivo identificar quais as referências criadas pelos museus do Recife –
especificamente Museu do estado, Museu do Homem do Nordeste e Museu da Abolição
– acerca da herança afrodescendente e como estas interferem nas relações
raciais no contexto da cultura brasileira.
A memória que vem a público sobre a população afrodescendente afeta
diretamente a forma como essas pessoas são vistas na sociedade; este “vir a
público” acontece através de espaços – onde estão inseridos os museus - que
legitimam determinados discursos. Se pensarmos a memória como resultado de uma
seleção que obedece determinados critérios, entenderemos que a criação de uma
memória coletiva é palco de uma luta de poder. Segundo Mário Chagas, a memória
coletiva está vulnerável à ação política de eleger, reeleger, subtrair,
adicionar, excluir e incluir fragmentos no campo do memorável. (2003, p. 141).
Historicamente, os museus a serem pesquisados possuem, em suas
exposições, temáticas relativas ao povo negro que tem sido revisitadas: a
repressão aos cultos afro-indígenas, praticada no Recife, bem como em outros
estados do país, no início do século XX é objeto de estudo de vários autores
(CAMPOS, 2009; LODY, 2005; OLIVEIRA, 2014) e são a base dos acervos do Museu do
Homem do Nordeste e do Museu do Estado de Pernambuco; o Museu da Abolição,
inaugurado em 13 de maio de 1983, em alusão ao aniversário da Lei Áurea, tem
seu acervo composto basicamente por material doado, vinculado à chamada
“história oficial” (ASSIS, 2014). Estas especificidades nos levam aos seguintes
questionamentos: Qual a relação entre museus, história e memória? Quais os
momentos históricos que se formam os museus e seus acervos? Quais discussões
provocam? Qual o lugar do negro no museu?
5. Título: HISTORICIDADE DOS TERRITORIOS E IDENTIDADES INDÍGENAS: relações de
territorialidades e identidades dos povos indígenas no Sertão de Pernambuco com
a sociedade sertaneja entre os séculos XVIII e XIX.
Nome do proponente: Carlos Fernando dos Santos Júnior.
Instituição: PPGH-UFPE, SEDUC-PE.
Resumo:
Na atualidade, os povos indígenas da Região do Submédio São Francisco
vivenciam conflitos com os proprietários rurais por causas das terras
indígenas. No transcorrer do século XX, eles reivindicavam o reconhecimento das
suas identidades indígenas e dos seus direitos. No entanto, historicamente,
esses conflitos têm as suas origens nas disputas por territórios e recursos
naturais. Entre os séculos XVIII e XIX, a Região do Sumédio São Francisco
experimentou o desenvolvimento e expansão da pecuária e do latifúndio, cujo
produto foi o crescimento urbano e demográfico nas fazendas, povoados e vilas.
Tal desenvolvimento atingiu os territórios indígenas localizados nas ilhas do
Rio São Francisco e nos brejos de altitudes nos rios Moxotó (Serra Negra) e no
Pajeú (serras do Arapuá e Umã). Quando os criadores de gado e moradores
atacaram estes territórios, expulsando os nativos, motivados pelo desejo de
controlar as fontes de água. A política indigenista adotada nesse período
transitou do extermínio/assimilação/catequização (século XVIII) para negação da
identidade indígena e a extinção oficial das terras indígenas (século XIX).
Entretanto, como estratégia de permanência nos seus territórios, as populações
indígenas da região adotaram as ações de resistência/negociação/alianças.
Apropriaram-se da cultura dos seus adversários para reelaborá-las segundo os
seus interesses, incorporando novas identidades. Tal permanência ajuda na
compreensão da luta pela terra no presente. As terras reivindicadas pelos povos
indígenas de Pernambuco foram aldeias/aldeamentos/missões para o assentamento
dos nativos no período assinalado, consideradas terras/territórios dos seus
ancestrais.
6.Título: COLEÇÕES ETNOGRÁFICAS E MUSEUS
Nome do proponente: Ronaldo Henrique Martins da Silva
Instituição: UFPE
Resumo:
A importância dos objetos que compõem as variadas coleções etnográficas
encontradas nos museus, vem corroborar para um maior conhecimento científico de
pesquisadores e uma maior conscientização dos visitantes, que adentram a esses
espaços e seus acervos. Como também se faz de fundamental reconhecimento a
contribuição dos colecionadores na preservação e conservação dessas coleções. A
coleta de objetos dos povos indígenas de alguma forma, serviram como
salvaguarda do patrimônio material desses povos, que porventura já não existem
mais ou com o passar do tempo perderam suas tradições de construção material.
Sendo os museus de alguma forma mantenedor desses acervos materiais,
representando através desses objetos, as suas tradições e seu modo de vida,
colaborando com a preservação dessa cultura material. Os museus como detentor
dessas coleções etnográficas, tem como missão de transmitir para as gerações
presentes e futuras, esse rico legado.
7.Título: Patrimônios Arqueológico Musealizado: Memória e
identidade nas instituições museais recifenses.
Nome do proponente: Rosemary Aparecida Cardoso
Instituição: UFPE
Resumo:
Um dos papeis da Arqueologia e da educação patrimonial, por ela
desenvolvida, é contribuir com a conscientização e valorização de elementos
identitários e indicadores de memória. Neste sentido, o processo de
“musealização da arqueologia” promove um diálogo interdisciplinar entre
Arqueologia e Museologia, onde, a exposição museólogica ressalta a interação
entre o público/objeto, como meio e fonte de conhecimento, fornecendo ao
visitante, um contato direto com a história ali apresentada. Neste sentido, o
patrimônio arqueológico musealizado é receptáculo da memória das relações que o
constituíram; e quando inserido na exposição museal adquire um caráter
polissêmico, tendo seus significados metamorfoseados pela apropriação da
sociedade, sendo constantemente (re)significado. Na dissertação “Arqueologia
Musealizada e Educação Patrimonial: Caminhos e desafios da
transmissão do conhecimento nos museus recifenses”, analisamos as ações
educativas e a relação visitante/objeto arqueológico no âmbito museal; com
intuito de discutir os processos de significação e resignificação do patrimônio
arqueológico musealizado. Contatamos que, cada pessoa ao visitar uma exposição,
percebe e interpreta os objetos expostos a partir de suas experiências
pessoais, sendo o conhecimento empírico assimilado de múltiplas formas.
Portanto, o objeto arqueológico musealizado, não extingue sua relevância no seu
próprio corpo físico ou no espaço museal, nem tampouco na exposição em si, mas
aponta para fora de si, para a vida dos visitante, que busca associar o
patrimônio arqueológico musealizado a momentos e situações de seu cotidiano,
interpretando-os como elementos fulcrais de sua formação sócio-cultural. Neste
mister, as ações de educação patrimonial desenvolvidas pela arqueologia e as
ações educativas desenvolvidas pela museologia, contribuem para a construção de
um elo entre a sociedade atual e o conhecimento sobre o passado, auxiliando na
compreensão de nossa herança sócio-cultural e construção das identidades
coletivas.
8. Título: Memória e história indígena e do indigenismo: reflexões sobre o processo de digitalização do acervo do Cimi/Nordeste
Proponente: Manuela Schilacci
Instituição: PPGA/UFPE
Resumo:
Este trabalho reflete sobre um conjunto de ações que estão sendo desenvolvidas para a organização, salvaguarda e disponibilização de um dos mais importantes acervos sobre a questão indígena no Nordeste brasileiro: o acervo do Conselho Indigenista Missionário/Nordeste. A instituição conta com diversos tipos de materiais, entre os quais: audiovisual, sonoro, hemerográfico, documental, fotográfico, de objetos, iconográfico e bibliográfico. Este acervo contém material único que retrata os últimos 40 anos de memória dos povos indígenas, a história do movimento indígena e do indigenismo na região. Além disso, reflete a intensa atuação da instituição junto aos povos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, norte da Bahia e Paraíba. A primeira atividade desta ação foi iniciada no ano de 2013 com o processo de digitalização do acervo audiovisual e sonoro, atualmente está sendo realizada a digitalização e catalogação do acervo fotográfico. O conteúdo conta com uma parte do material editado e divulgado, enquanto, a outra parte é constituída por registros brutos e portanto únicos. O acervo sonoro conta com o material mais antigo, parte significativa é referente à segunda metade dos anos 1970, as primeiras peças datam de 1975, especificamente do processo de luta pela demarcação da T.I. Kiriri. Estas peças são anteriores a fundação do próprio regional Nordeste, cuja criação ocorreu em 1978. As gravações, por sua vez, foram geralmente realizadas pelos missionários do CIMI que, durante a atuação junto aos povos indígenas, registraram e documentaram momentos importantes do movimento indígena, como assembléias, encontros e mobilizações, a vida nas aldeais, festividades e rituais, depoimentos dos índios, lideranças e anciões; como também a história do indigenismo com registro de assembléias, missas e encontros de formação, dentre outros. O acervo fotográfico é composto por cerca de 7.500 peças, também produzidas pelos indigenistas, com significativos registros no período de 1978 aos anos 1990. Este conjunto de ações tem a finalidade de organização e salvaguarda, mas também traz como preocupação central a disponibilização do material para os povos que ele retrata. Destacamos os planos futuros de trabalho com: (1) estudantes da Licenciatura Intercultural/UFPE e da Especialização em História Indígena/UFPE; (2) professores indígenas, constituindo suporte para pesquisas e produção de material didático específico a ser utilizado nas escolas, como livros e produções audiovisuais; e (3) iniciativas que já existem nestes povos de organização da memória (museus indígenas, casas da memória, coleções etc.). A preservação desta memória e dos processos sociais que levaram a formação deste acervo tem um sentido político porque envolve o tema da construção de sentido da História, pretende-se preservar e contar outra versão da Historia do Brasil, a do nordeste indígena e sua resistência.
IV – Antropologia, Etnicidade e o
Direito
Coordenadores: Mariana Figueirôa (UFPE)
e Sandro Lobo (UFPE)
1. Título: PERITAGENS ANTROPOLÓGICAS: OS CASOS “WAIMIRI- ATROARI”, “ANARO” E
“MAKUXI”.
Nome do proponente: FRANCISCO MARCELO GOMES FERREIRA
Instituição: FACULDADE JOAQUIM NABUCO - FJN- OLINDA
Resumo:
O presente trabalho objetiva realizar uma análise de três ações
judiciais que envolvem indígenas, em territórios e contextos diferenciados. O
foco será analisar a presença do argumento antropológico, bem como seu caráter
educativo nos atos decisórios das referidas ações, em contraposição aos
argumentos jurídicos.
No primeiro caso, a autoria da ação ordinária é do Estado de Roraima,
sobre a comunidade indígena Waimiri-Atroari . O motivo da ação foi auto-defesa
da comunidade indígena , que segundo a denúncia , estaria efetivando um “poder
de policia” na região , na defesa de seus territórios.
O segundo caso é uma ação declaratória, de autoria de Oscar Maggi e
Mônica Franceshi Maggi, à Terra Indígena Anaro, localizada no município de
Amajari. A ação, pede declaração positiva de domínio dos autores em relação a
propriedade privada. Para os autores, a área indígena demarcada não se adequa
ao conceito de “terras tradicionalmente ocupadas”.
No terceiro caso, a ação ordinária pertence a Adriana Dias Coelho,
indígena da etnia Makuxi, localizada nas Terras Indígenas de São Marcos,
município de Boa Vista . O réu é o INSS, e a autora indígena pede indenização
por danos morais à instituição, por ter negado o salário maternidade , alegando
que a mesma não tinha a idade mínima exigida para ser reconhecida como mãe.
Uma hipótese preliminar ,é a postulação de que quando falamos em saberes
antropológicos e saberes jurídicos, estar-se tentando compreender como ambos
“gerenciam a diferença”, e na observância dessas distintas formas de percepção
da alteridade ,verifica-se que existe uma interação entre esses saberes, mas
que não é sinônimo de consenso. As relações estabelecidas entre ambos
apresentam-se ambivalentes, bem como suas formas de compreensão e percepção do
outro são diferenciadas.. Conceitos como pluralismo jurídico, interlegalidade,
audiência e mediação , também ajudam na busca por respostas à essa problemática
.
2. Título: A "tradição" em disputa: Uma análise comparada acerca da
ADI Quilombola e dos conflitos no interior da comunidade Ilha Aritingui.
Nome do proponente: Júlio Ivo Celestino Ferreira
Instituição: UFPB
Resumo:
Busca-se analisar as diferentes concepções de comunidades tradicionais
manejadas no interior do Judiciário e na realidade material dos sujeitos que
constituem essas comunidades. Para isso, pretende-se compreender as disputas
que permeiam a construção acerca da concepção de “comunidades tradicionais”.
Em 2004, o PFL – atual DEM – ingressou no Supremo Tribunal Federal com
uma Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.239, com o objetivo de atacar o
decreto 4887/2003, que estabelece a demarcação dos territórios quilombolas.
Inicia-se, a partir daí, um embate no STF acerca da questão quilombola.
Em 2005, no Tribunal Regional Federal, a Usina Miriri, do ramo do
agronegócio açucareiro, ingressa com uma ação de Reintegração de Posse, que
objetivava reaver as terras da Fazenda Santa Emília I, que haviam sido
“invadidas” pela comunidade Ilha Aritingui – comunidade ribeirinha localizada
no município de Rio Tinto/PB.
Um dos argumentos utilizados pelo DEM e pela Usina consiste em
deslegitimar os sujeitos das comunidades tradicionais reivindicando um recurso
“temporal”, que peca pelo essencialismo. Posições e termos ligados à
"imemoriabilidade", e à "ancianidade" visam argumentar que
homens e mulheres reais que se constroem no dia a dia daquelas comunidades não
são merecedores do acesso aos direitos porque não ingressam nesse lócus temporal,
“requisito” da tradição.
Pretendemos negar essa noção essencialista de tradição, que, ao
reivindicar essa “imemoriabilidade” está menos preocupada em traçar um passado
e mais interessada em subjugar o presente e negar o futuro às “comunidades
tradicionais”. Os conflitos nos quais são inseridos os homens e as mulheres
dessas comunidades e a articulação de seus interesses coletivos em
contraposição aos interesses de determinados sujeitos é o que, na materialidade
do real, emprega a consistência do recurso à “tradição”. Procura-se demonstrar,
a partir disto que é no interior dessas relações sociais de disputas que emerge
uma identidade coletiva de comunidades tradicionais, que se movimenta ao
fazer-se.
3. Título: Educação Escolar Indígena: traduções e embates no campo de sua
efetivação.
Nome do proponente: José da Cunha Júnior
Instituição: UFRPE/Fundaj - PPGECI
Resumo:
O desafio para a implantação e efetivação da Educação Escolar
Indígena-EEI em Pernambuco, coloca os povos indígenas diante de uma cultura
escolar que confere “à escola o quase monopólio da ação educativa,
desvalorizando os saberes não adquiridos por via escolar e […] contaminar as
modalidades educativas não escolares, modificando-as a sua imagem e
semelhança”1(Canário, p. 62). Vários estudos recentes na região nordeste,
analisam os processos de escolarização entre os diversos povos indígenas,
revelando como estes entendem a educação escolar e resignificam os sentidos da
instituição escola, do sistema educativo e do controle social que pretendem ter
sobre estes e seus processos de construção, ainda inacabados.
A afirmação de suas identidades étnicas como referência essencial nos
processos educativos dos povos indígenas, revela um desafio permanente onde os
conteúdos e práticas pedagógicas são significadas e traduzidas no campo da
interculturalidade, inevitável neste contexto, resultando em embates
constantes, onde o direito à educação, como pressuposto da cidadania, dialoga
com a identidade étnica diferenciada, resultando muitas vezes em percepções
distintas, apesar de um extenso conjunto de normas e legislações, entre o
estado e os povos, bem como a efetivação de uma escola diferenciada, que
necessita de insumos governamentais, escassos e intermitentes.
A autonomia conquistada pelos povos indígenas se revela na formulação do
que chamamos de Projeto Político Pedagógico-PPP, referência basilar das
escolas, onde organização, interculturalidade, território, toré e identidades
tornam-se uma base curricular que dialoga com as disciplinas de forma
transversal e complementar, configurando as especificidades inerentes a esta
modalidade educacional.
Como processo que busca a efetivação da EEI, necessitam das condições
ideais para sua consolidação, favorecendo desta forma as referências
necessárias para os ajustes e adequações da política de EEI, através das
traduções realizadas pelos povos indígenas.
4. Título: O direito da força versus a força do direito em
espaços territoriais indígenas em Pernambuco.
Nome do proponente: José Soares de Morais
Instituição: UFPE
Resumo:
Trata-se de uma apresentação inspirada no propósito de um projeto sobre
a utilização do monopólio da força física pelos integrantes da Polícia Militar
de Pernambuco, fundamentado na investigação antropológica das percepções que
orientam suas práticas profissionais. A partir da realização de uma etnografia
dentro de uma organização, que ainda permite a alcunha da dúvida, entre o
combate à violência, e o seu patrocínio.
Justificativa
Após participação em reunião de trabalho no último encontro do
Laboratório de Estudos Avançados de Cultura Contemporânea (LEC) do PPGA/UFPE,
no dia 24 de setembro do ano em curso, sob o tema: “As ameaças dos direitos
indígenas na conjuntura atual”, surgiu o interesse de ampliar uma temática que
expressa um sentimento, cada vez mais provável, de qualquer um ser vítima de
ofensa criminal pautada no uso abusivo da força policial militar.
Problema
Provocado por meio de registros documentais, onde membros representantes
do povo Fulni-ô, manifestaram o sentimento de repúdio e indignação à entrada
não autorizada de policiais militares na área do seu aldeamento. Denunciando
reincidentes ameaças que diversos cidadãos indígenas vêm sofrendo. Em que pese
reconhecerem que indivíduos indígenas presentes na comunidade são acusados de
responderem por atos criminosos, não justificaria as frequentes investidas que
a polícia militar vem fazendo nos espaços doméstico e comunitário das aldeias
Fulni-ô.
O olhar antropológico vem despertar e dar guarida a minha curiosidade
científica, na tentativa de elucidar uma questão que se arvora como um grave
sintoma da violência institucional, a fim de buscar por meio da compreensão
etnográfica as chaves analíticas suficientes para traçar o perfil desses
atores, quanto às suas percepções na exclusiva condição de detentores do uso da
força física, especialmente durante interação com o público indígena em seus
espaços territoriais.
V – Cartografias Sociais e Identidade
Coordenadores: Hosana Celi (UFPE) e
Vânia Fialho (UPE)
1. Título: O FUTEBOL DO BAIRRO DE SANTO AMARO E O FAZER CARTOGRÁFICO
Nome dos proponentes:
Hosana Celi Oliveira e Santos (LACC/UPE; NEPE/PPGA/UFPE)
Emmerson Pereira da Silva (LACC/UPE)
Flora Clarissa Pimentel (LACC/UPE; PPGA/UFPE)
Maria Jaidene Pires (LACC/UPE)
Maria Marluce Sousa Portela (LACC/UPE)
Tiane de Paiva e Souza (LACC/UPE; LecGEO/UFPE)
Whodson Robson da Silva (LACC/UPE)
Resumo:
O presente trabalho objetiva relatar a experiência da cartografia social
do futebol do bairro de Santo Amaro, realizada pela própria comunidade local em
parceria com o Núcleo de Cartografia Social de Pernambuco/Laboratório de Ação
Coletiva e Cultura (LACC), sediado na UPE que se localiza no mesmo bairro.
Inicialmente voltado para as populações tradicionais, as iniciativas do Projeto
Nova Cartografia têm também se dirigido a questões urbanas, sendo o atual
trabalho desenvolvido a partir desta perspectiva. O bairro de Santo Amaro,
situado na região central da cidade do Recife, é conhecido por ter problemas
relacionados a desigualdades sociais, principalmente ligadas à ocupação
irregular da terra. No entanto, o contexto urbano e a oportunidade de
adentrarmos no cotidiano do bairro, possibilitou identificar uma categoria
social importante: mais de 30 associações de times de futebol, envolvendo
homens, mulheres, jovens e crianças do bairro. Essa constatação motivou a
comunidade em sistematizar estes aspectos por meio da elaboração de textos e
mapeamento das sedes dos times e campos de futebol, através de oficinas e
reuniões com o Núcleo de Cartografia Social de PE, resultando na confecção de
um fascículo do futebol de Santo Amaro. Sendo assim, este trabalho contribui
significativamente para o desenvolvimento de uma lógica de conhecimento que
procura quebrar os muros da universidade e busca interagir o conhecimento
científico com o conhecimento popular, de maneira dialógica, empoderando, desta
maneira, as partes envolvidas no processo da cartografia social (pesquisadores
e comunidade).
2. Título: MAPEAR BRINCANDO: A EXPERIÊNCIA DA CARTOGRAFIA
SOCIAL COM AS CRIANÇAS DO BAIRRO DE SANTO AMARO
Nome dos proponentes:
Tiane Araújo de Paiva e Souza (LACC/UPE; LECgeo/UFPE)
Emmerson Pereira da Silva (LACC/UPE)
Flora Clarissa Pimentel (LACC/UPE; PPGA/UFPE)
Hosana Celi Oliveira e Santos (LACC/UPE; NEPE/PPGA/UFPE)
Maria Jaidene Pires (LACC/UPE)
Maria Marluce Sousa Portela (LACC/UPE)
Whodson Robson da Silva (LACC/UPE)
Resumo:
Com base numa lógica de conhecimento que procura quebrar os muros da
universidade, a cartografia social parte da proposta da interação do
conhecimento científico com o popular. Em seus objetivos, busca compreender o
ambiente estudado, mostrando o seu contexto e potencial interno através dos
sujeitos que diariamente protagonizam as dinâmicas daquele determinado
ambiente. Com esta finalidade, o Núcleo de Cartografia Social de
Pernambuco/Laboratório de Ação Coletiva e Cultura (LACC), sediado na UPE,
realizou em conjunto com as crianças integrantes do Projeto Santo Amaro
(Projeto de extensão da Escola Superior de Educação Física - ESEF/UPE), a
cartografia das crianças do bairro. Na sala de dança da ESEF/UPE, as crianças
elegeram temáticas que pudessem representar o bairro em que vivem, resultando
no destaque de potenciais e inclusive de conflitos ali presentes. Nos três dias
de oficinas, as crianças foram introduzidas a leitura de mapas, ao fazer
cartográfico, tiveram acesso às representações já existentes sobre Santo Amaro,
para assim discutirem e produzirem a própria cartografia do bairro. Todo esse
processo culminou na confecção de um fascículo das crianças do bairro de Santo
Amaro em que é possível identificar a vontade de mudança e a realidade do
cotidiano local, através da perspectiva dessas crianças, ou seja, de uma visão
geral do que não é mostrado por mapas oficiais. O fascículo produzido na
oficina de cartografia social indica aspectos relevantes a serem pontuados: as
informações são vivas e sensíveis, além de dar visibilidade a aspectos ainda
não percebidos nas relações sociais e não contemplados nas representações
cartográficas existentes. Desta maneira, o projeto também contribuiu para o
empoderamento das unidades de mobilização e dos movimentos sociais de Santo
Amaro, que poderão utilizar o fascículo como ferramenta para encaminhar suas
demandas e reivindicações e dar visibilidade ao seus anseios.
3. Título: A CARTOGRAFIA SOCIAL COMO EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Nome do proponente: Whodson Silva
Instituição: UPE
Resumo:
O Projeto Interdisciplinar Ensino-Pesquisa-Extensão - PEPE, consiste num
dos componentes curriculares do curso de Ciências Sociais da UPE, cujo objetivo
é a construção de conhecimentos a partir de projetos que integram reflexões e
ações do referido tripé acadêmico – ensino, pesquisa e extensão. No caso agora
descrito trata-se, do projeto PEPE intitulado: “Relações sociais e processos de
urbanização – a Escola Karla Patrícia e a Via Mangue”. Este projeto objetiva
articular a tríade acadêmica no contexto das interferências causadas pela
construção da Via Mangue na Escola Karla Patrícia e nas comunidades de
catadores de caranguejos que estão no entorno desta unidade educacional. A
proposta de utilizar a cartografia social como extensão, nasceu da participação
no núcleo de Cartografia Social de Pernambuco, que é articulado ao Projeto Nova
Cartografia Social, sediado na UEAM, e objetiva a produção de mapas elaborados
pelas unidades de mobilização envolvidas. O Nova Cartografia, a princípio, voltou-se
para as populações tradicionais, porém, mais recentemente vem adentrando no
meio urbano. Tal aspecto passa a ser importante para a reflexão do trabalho de
extensão proposto, que está em andamento, já que o mesmo situa-se no contexto
urbano, mas envolve discussões sobre os tradicionais espaços e práticas da cata
de caranguejos. A atividade extensionista, neste sentido, pretende se apropriar
dos conceitos e ferramentas utilizados pelo Nova Cartografia para elaborar
coletivamente uma cartografia social do espaço em questão. Importante
considerar que esta tarefa desenvolve uma lógica de conhecimento que procura
extrapolar os muros da universidade e busca associar o conhecimento acadêmico
ao conhecimento popular. Assim sendo, entendo que utilizar a cartografia social
como extensão, articulando-a ao ensino e a pesquisa, possibilitará a
compreensão dos impactos causados pela Via Mangue nestas comunidades e
consequentemente na Escola Karla Patrícia, num contexto de transformações do
espaço urbano pela força do capital.
VI – Música, Dança e Etnicidade
Coordenadores: Carlos Sandroni (UFPE),
Max Carneiro da Cunha e Sandro Guimarães (UFPE-CA)
1. Título: OS PRINCÍPIOS DA INTEGRAÇÃO RÍTMICA NO CORTEJO DO
COLÁ SON JON
Nome do proponente: ALCIDES JOSÉ DELGADO LOPES
Instituição: UFPE
Resumo:
Esta pesquisa versa sobre as festas de Colá Son Jon na cidade do Porto
Novo, ilha de Santo Antão em Cabo Verde. Propõe-se a analisar em especial a
atuação dos principais músicos da festa, os tamboreiros, e o seu lugar na
trajetória desta manifestação cultural, que vem passando por transformações
significativas nos últimos tempos. O trabalho de campo compreendeu três etapas,
sendo duas delas realizadas durante a época das festas, no mês de junho dos
anos de 2013 e 2014, e uma realizada no mês de dezembro de 2013 na ilha de
Santo Antão, quando se procurou analisar as diversas formas de sociabilidade
praticadas pelos moradores de um bairro da periferia durante a mobilização que
antecede, e permanece durante, as festividades. As festas de Colá Son Jon estão
profundamente associadas com os modos de vida dos antepassados da ilha através
da memória, do uso de objetos simbólicos e das representações vividas durante
este ciclo.
A abordagem etnomusicológica é inaugurada no meu trabalho, na medida em
que procuro compreender o ofício do tamboreiro a partir da sua própria
perspectiva. No meu procedimento metodológico procuro valorizar as práticas e
saberes que o legitimam como um dos principais elementos das festas de Colá Son
Jon. Adicionalmente, a decisão analítica de valorizar a abordagem funcional da
música com o intuito de valorizar uma concepção unitária, nos permite acessar
as várias maneiras como nos expressamos ritmicamente, em uma variedade de modos
de significação rítmica.
A análise apresentada traz em seu cerne a consideração de
elementos bastante familiares à música africana, entre estes; o uso da
repetição como um princípio organizador, a importância da percussão e a
consistência da criação musical e a abordagem com foco no papel funcional da
música em detrimento do contemplativo.
2. Título: Formação de professores generalistas para o ensino
de arte nos cursos de Pedagogia nos estados de Pernambuco e Santa Catarina
Nome do proponente: Kátia Silva Cunha e Paulo David Amorim
Braga
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco
Resumo:
Este trabalho apresenta alguns resultados da pesquisa realizada em
parceria entre os Grupos de Pesquisas GESTARTES (Grupo de Estudos em Artes e
Educação), GEFAI (Grupo de Pesquisa em Formação de Professores, Arte e
Inclusão)/ Pernambuco, e o Grupo de Pesquisa MUSE (Música e Educação)/Santa
Catarina, aprovada pelo Edital CNPq nº18/2012. A pesquisa se insere no debate
sobre os desafios da atuação dos pedagogos com o ensino de arte nas escolas
públicas do país. Nesse sentido buscou-se compreender se a formação do
profissional em Pedagogia oferece subsídios para o trabalho com a arte nas
séries iniciais da educação básica, na perspectiva apontada por Esteves (2010)
de reflexão e autoformação, através da capacidade de levantar e identificar
problemas, interrogar problematizando a realidade, apresentar hipóteses de
compreensão e explicação do fenômeno artístico e fazer escolhas de intervenção
com fundamentação teórica sobre a arte, especificamente quanto ao ensino da
música. Pesquisas apontam que em relação à formação do professor generalista a
abordagem polivalente com a predominância das artes plásticas reduziram
enormemente a presença da música nas escolas e também a dança, como linguagem
estética. Diante das inquietações a pesquisa ressalta: Os pedagogos deveriam
ter formação em diversas áreas artísticas? Um único professor formador é capaz
de lidar com todas as áreas artísticas de forma consistente? Seria possível ou
desejável homogeneizar tal formação? Esta diversidade prepara o professor
pedagogo para a inserção das artes em suas práticas pedagógicas escolares?
Estas questões ainda não são respondidas em diversos contextos educacionais
brasileiros e, na pesquisa, fica evidente que ainda é preciso aprofundar esta
discussão para que os cursos de pedagogia possam oferecer formação em artes de
maneira satisfatória.
3. Título: A performance das máscaras cerimoniais: a herança indígena
Pankararu e Fulni-ô.
Nome do proponente: Caio Richard de Araújo Macêdo Alexandre
Instituição: UFPE
Resumo:
Seguindo os pensamentos sobre performance e antropologia, idealizada por
Schechner (1985), e o drama social, desenvolvido por Turner (1988), o estudo
sobre as máscaras indígenas forma uma reflexão sobre os momentos de suspenção
do cotidiano desses povos para uma expressão extraordinária, como uma ruptura à
monotonia das relações sociais e uma atenção a sua própria cultura, fazendo com
que se vejam em um grande espelho cultural. Pinto (1956) mostra a grande
concentração acerca do ritual do Ouricuri na comunidade Fulni-ô, em Águas
Belas-PE, revelando os bastidores secretos na entrada dos mascarados ao
terreiro do catimbó. O ritual do Ouricuri é a cerimonia Fulni-ô mais
importante. É lá onde os índios pintam seus corpos e colocam as máscaras,
chamadas por eles de batkeá, para “bailarem” ao som de cânticos secretos sobre
a história de seus antepassados e aos sons de maracás de coité (PINTO, 1956).
Cunha (1999) e Alburquerque (2010) desenvolveram pesquisas sobre a musicalidade
pankararu, descrevendo aspectos que caracterizam a máscara do praiá, como são
denominados os mascarados na cultura Pankararu. Os praiás são seres que se
encantaram, ou seja, antepassados do povo Pankararu que migraram para o mundo
espiritual sem passar pela experiência da morte, tornando-se mensageiros do
mundo dos vivos e o mundo espiritual. A música dentro da performance, é
fundamental no ritual religioso das duas etnias indígenas. Indícios semelhantes
na performatividade religiosa dessas comunidades que se assemelham e formam um
conjunto de características que embasa a história e a herança ancestral dessas
comunidades indígenas, possibilitando a pesquisa sobre a sua remanescencia e a
função psicofísica da máscara. Segundo Turner, citado por John C. Dawsey (2006,
p. 19), a performance evoca as experiências do passado que são revividas e
articuladas ao presente em uma “relação musical”.
4. Título: Práticas Musicais como traços de uma identidade.
Nome do proponente: Jailson Raulino
Instituição: UFPE
Resumo:
Em 2007 o frevo obteve o título de Patrimônio Imaterial Brasileiro,
quando fora inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão. De acordo
com a inscrição, “é uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, enraizada
no Recife e em Olinda, no estado de Pernambuco. Trata-se de um gênero musical
urbano que surgiu no final do século XIX, em um momento de transição e
efervescência social como uma forma de expressão popular nessas cidades”. Já em
2012 foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Este trabalho surgiu de uma busca por estabelecer um mapeamento de
procedimentos de estudo sobre o frevo, onde me ficou evidente que o campo é
marcado por um universo de fatores e eventos que interagem e modificam-se
permanentemente. É inevitável, nesse processo, o entrelaçamento de conceitos e
modelos teóricos de análise, em constante interface com outras áreas do
conhecimento.
O Objetivo principal é apontar para a possibilidade relacional da
performance musical e seu contexto. O frevo, como música popular urbana,
carrega em si, a questão da identidade. Consequentemente, pesquisar a música
popular urbana é, de certo modo, inserir-se na discussão sobre a cultura
nacional.
Nos estudos de Bohlman, assim como na construção teórica de Homi Bhabha
os processos associados à identidade e às estratégias de poder revelam
características ambivalentes, como estratégia de apropriar-se da música do
outro que é, no fundo, a procura por uma própria.
O frevo - uma vez que a música, cremos, é consequência desse
relacionamento, dessa relação dialógica. Enfim, a música tornara-se um marcador
social, perpassando valores simbólicos e significados diversos. Permitiu
estabelecer pela diferença, uma identidade singular, contudo, sem negar a
pluralidade e proximidade de um passado colonial.
5. Título: Toré: Acõe-Criações de uma Performance Política
Nome do proponente: Sandro Guimarães de Salles
Instituição: UFPE
Resumo:
O toré pode ser descrito como um complexo simbólico, que inclui
cânticos, dança, mantendo um sentido lúdico, político e religioso, se
configurando como uma dos principais elementos que atam o liame étnico dos
povos indígenas no Nordeste. Se, por um lado, sua prática aponta para um
componente de continuidade, de tradição, por outro, carrega em si mesmo as
marcas das reelaborações e ressignificações inscritas na história desses povos.
Com efeito, a presença de imagens, símbolos e práticas do catolicismo, o desconhecimento
da língua dos seus antepassados, para a grande maioria dos povos indígenas no
Nordeste, entre outras marcas coloniais, evidenciam essas transformações.
Contudo, evidenciam, do mesmo modo, sua vitalidade e criatividade. Tomando como
referência Michel de Certeau (2003), podemos dizer que os povos indígenas
subverteram as ações rituais, representações e leis impostas pelo sistema do
qual não podiam fugir, embora sem rejeitá-las diretamente ou modificá-las. O
toré, portanto, ilustra o caráter subversivo dessas ações-criações do
cotidiano. Como toda tradição, na acepção de Georges Balandier (1997), ele
teria um componente passivo que desempenha o papel de conservação e
memorização, e outro ativo, que se manifesta por meio das ressignificações e relaborações.
Como toda tradição, teria seu dinamismo alimentado pelo movimento, pela
“desordem”. Pensar o toré nesta perspectiva, considerando suas diferentes
dimensões e formas de manifestação, significa repensar o passado e o presente
das sociedades indígenas (BOCCARA, 2005). Deste modo, concebemos os processos
de resistência, adaptação e mudança para além da velha dicotomia entre a
permanência de uma tradição imemorial, de um lado, e a diluição da identidade
indígena por meio de mecanismos de aculturação, de outro. A presente
comunicação pretende se ocupar das ações-criações presentes no toré, enquanto
performance política, enfatizando, sobretudo, seus aspectos musicais.
6. Título: Maracatu: A Festa Profana do Candomblé, realizada
na Região Metropolitana do Recife, tratou da relação que existe entre a música
e a religião de matriz Afro-pernambucana.
Nome do proponente: Ausônio José Medeiros Silveira
Resumo:
A pesquisa apresenta uma visão antropológica, histórica e política,
explicando a teologia da religião, sua mística, envolvimento com o
maracatu-nação e como aconteceu o desenvolvimento da cultura afro na
cidade do Recife. Períodos de progressão, distensão e regressão. Não
necessariamente nesta mesma ordem.
Escrevi a segunda parte desse projeto mostrando a popularização do maracatu. Jovens brancos de classe média, influenciados pela Cultura Pop, começaram a participar de grupos percussivos e maracatus-nação, se tornaram simpatizantes e adeptos do candomblé.
Esse recorte foi realizado no ano de 2008. Com o passar do tempo a
realidade foi se modificando. Atualmente, questões políticas, o preconceito e a
intolerância religiosa voltam a interferir diretamente nessas manifestações da
cultura Afro-pernambucana.
7. Título: A música e a dança na identidade da Renovação
Carismática Católica
Nome do proponente: Maria Clara de Sousa Tavares
Instituição: UFPE/UFPB
Resumo:
No final dos anos 90 a Renovação Carismática Católica (RCC) teve uma
intensa propagação no Brasil, devido ao trabalho do Pe. Marcelo Rossi. Este
jovem padre cantava e dançava dentro da igreja, e procurava motivar os fiéis a
fazerem o mesmo. Seu trabalho atraía multidões para a igreja, o que deu
visibilidade ao catolicismo e transformou o padre numa celebridade, tendo sido
convidado para programas na televisão, onde cantava e dançava com o público. A
dança apareceu como a característica que mais chamou a atenção dos fiéis, da
Igreja e da mídia. A escolha das músicas e a forma como eram dançadas
correspondiam às práticas da Renovação Carismática. O movimento da Renovação
Carismática Católica surgiu nos Estados Unidos no final da década de 60, e
pouco depois chegou ao Brasil. Sua espiritualidade se baseia no recebimento do
Espírito Santo tal como os primeiros cristãos, com manifestações físicas de
dons e milagres, e vivência em comunidades, sendo uma forma delas os grupos de
oração. Nos anos de 2013 e 2014 desenvolvi uma pesquisa acerca do fazer musical
em grupos de oração. Um dos resultados foi a constatação de que a música está
presente nos principais momentos de vivência carismática, representando algo
essencial, que não pode ser retirado. Os movimentos corporais nos encontros
carismáticos são tão presentes quanto a música, sempre acompanhando o fazer
musical, seja nos momentos de oração introspectiva, seja nos momentos de
músicas coreográficas. Essa característica está diretamente relacionada com um
elemento próprio da identidade carismática, que é a liberdade para expressar
emoções. Minha pesquisa buscou associar a música e dança com a liberdade
emocional, e por sua vez associar esta com a forma como os carismáticos
vivenciam o recebimento e a intimidade com o Espírito Santo, sua identidade
fundamental.
VII - Interculturalidade, Educação e Etnicidade
Coordenadores: Caroline Mendonça (UFPE)
e Lara Erendira Andrade (NEPE)
1. Título: IDENTIDADE ÉTNICA E ALTERIDADE: PARA PENSAR O ENSINO DAS HISTÓRIAS
E CULTURAS INDÍGENAS EM ESCOLAS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
Nome do proponente: Frances Marina Alves da Cunha
Instituição: Fundação Joaquim Nabuco
Resumo:
Este trabalho se reporta diretamente aos estudos sobre etnicidade para
investigar como estão sendo abordados os conteúdos acerca das questões
indígenas no âmbito do currículo escolar e na transmissão desses saberes,
dentro de escolas do ensino médio em Pernambuco. A seleção de uma escola
indígena vem a tempo de compreender como o estudo diferenciado pela sua
especificidade está intrinsecamente ligado aos processos identitários que lhes
são próprios. Em paralelo, na escolha da escola da rede pública em Recife,
interessa identificar e analisar as práticas educativas que estão (ou não) em
consonância com o ensino das temáticas indígenas. Dentro dessas duas direções
que delimitam o locu, a lei 11.645 - aqui comentada en passant, já que não se
trata do objeto de análise – possibilita este campo de análise uma vez que
reza, entre outras letras, sobre a obrigatoriedade do ensino da história e
cultura indígena. O contributo deste estudo reside, primeiramente, no esforço
de analisar como se dão as atuais formas de abordagem de conteúdo a respeito do
lugar da temática indígena em escolas do nível médio, o que se verifica escasso
e, portanto, necessário. Neste sentido, interessa aqui levantar as questões
basilares para acessar esta realidade: É possível pensar o conceito de
interculturalidade em um contexto escolar não-indígena? E no contexto escolar
indígena, como pensar a identidade étnica no ensino diferenciado? Sobre uma
educação para a alteridade, pode-se fazer um paralelo entre as escolas
indígenas e não-indígenas de que não há um problema de educação indígena, há
sim uma solução indígena para o problema de educação (MELIÁ, 1999)? A
importância destas questões encontra no campo da Antropologia um movimento
duplamente pertinente, já que trata de questões etnológicas na especificidade
do ambiente escolar indígena e o trato da temática indígena num espaço de
ensino não-indígena.
2. Título: INTERCULTURALIDADE E SABERES TRADICIONAIS NO ENSINO SUPERIOR:
NOVAS PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS
Nome do proponente: Ana Carolina Gomes Coimbra e Gizeli dos
Prazeres Fonsêca
Instituição: ULHT - UFRPE
Resumo:
Conhecer a história, a cultura e os saberes tradicionais dos povos
indígenas possibilita à sociedade brasileira refletir sobre si mesma e
construir bases mais sólidas no diálogo intercultural e na convivência com as
diferenças. Dessa maneira, torna-se capaz de estabelecer relações sociais
justas e igualitárias. Para garantir os direitos aos grupos étnicos há muito
esquecidos, os órgãos institucionais iniciaram o processo de resgate histórico
formulando leis e regulamentações para garantir o acesso à educação. Logo, a
qualidade do ensino universitário, e a necessária “formação pedagógica” dos
indígenas não pode ser considerada nos “moldes” os quais estamos acostumados às
universidades brasileiras. Mas, compreendemos a relevância do aperfeiçoamento
profissional nas áreas de conhecimento específico a cada um das etnias
existentes. Por isso, hoje algumas instituições possibilitam as licenciaturas
específicas aos povos indígenas, com o intuito de reconhecer suas identidades e
características próprias. Falar sobre esta temática, significa, produzir
diferentes discursos, e não poderia ser de outro modo, face às diversidades
culturais e sociais, à complexidade da instituição universidade, à
multiplicação infinita dos conhecimentos e às diferentes demandas do mundo do
trabalho, numa era marcada pelas contradições de uma globalização excludente, e
preconceituosa. A educação é um direito Constitucional, logo, o ensino superior
indígena, e neste caso a formação de professores indígenas é um instrumento de
resistência étnica, de valores, de historicidade. As relações interculturais e
os saberes indígenas na formação do professor só irão agregar ainda mais
conhecimento a construção acadêmica destes. Neste contexto, a diversidade, o
reconhecimento étnico, a identidade e o interculturalismo, são passos que irão
ajudar no avanço de indígenas, independentemente da existência ou não de
“políticas oficiais”.
3. Título: Direitos Indígenas interculturais e transculturais
Nome do proponente: Fernando Ángel Ribot Cortés
Instituição: Universidade de Valhadolid (UVA)/UFPE
Resumo:
Frente ao paradigma moderno de um conhecimento hegemônico legitimador de
exclusões culturais, fundamentado numa distribuição desigual de poder e numa
“razão indolente” incapaz de pensar e atuar para definir outras formas de ser
ou de saber, assim como frente ao seu consequente discurso de Direitos Humanos
“reguladores” do social e o político a partir de poderes estatais e
supraestatais; se encontra a ecologia de saberes fomentadora de diálogos
interculturais a partir de uma “razão operante” contra-hegemônica, assim como o
seu consequente discurso de Direitos Humanos “emancipadores” de novas formas de
sociabilidade. Os discursos de Direitos Indígenas brasileiros, construídos por
índios e indigenistas, participam desse caráter emancipador. Na sua relação com
o mundo, o “índio” toma autoconsciência da sua existência mais ampla e atua
para entender-se com a nova realidade, para satisfazer as suas novas
necessidades. Instrumentos eficazes que utiliza nessa ação são os discursos de
Direitos Indígenas, construídos a partir das relações Interétnicas que
estabelece, as quais definem o seu caráter intercultural. Os Direitos Indígenas
interculturais constroem novos pensamentos e sentimentos sobre o índio e a
questão indígena no Brasil, recusando o paradigma da “aculturação” e fomentando
o paradigma da “multiplicidade cultural”, entendida como diálogo intercultural
livre e voluntário, equidistante e não dominado por uma cultura sobre as
demais. O futuro da sociedade brasileira e da humanidade necessita integrar os
índios como companheiros de um destino comum. A verdade sutilmente presente em
todas as culturas humanas deve ser conscientizada individual e coletivamente.
Nesse sentido, os Direitos Indígenas interculturais podem transformar-se em
transculturais, símbolos reivindicativos do equilíbrio cultural e ecológico, do
amor solidário e compreensivo que fundamenta o espírito essencial da vida e do
ser humano como parte dela.
4. Título: Interculturalidade, Educação e Toré: ciência e saberes dos povos
indígenas em Pernambuco.
Nome do proponente: Jozelito Alves Arcanjo.
Instituição:SEDUC-PE/NEPE/UFPE
Resumo:
A pesquisa em andamento tem foco nos processo de articulação entre os
povos indígenas em Pernambuco que mediando suas relações através desses
rituais: educação e o toré, tomando-os como estratégias de mobilização e
resistência étnica, criam redes de solidariedade entre o movimento artístico
cultural, escolas da rede oficial no sertão pernambucano, os movimentos étnicos
de luta pela terra e pelo acesso a uma educação específica, diferenciada e
intercultural, construída no interior desse movimento. Ao mesmo tempo em que
constroem a escola que desejam, fazem a especificidade de sua educação escolar
em movimento organizado, propõem e influenciam as políticas públicas de
educação escolar para estes povos neste estado. O conceito de Identidade em
Política - Walter Mignolo, Intercuturalidade Crítica - Catherine Walsh e de
Colonialidade do Poder - Anibal Quijano dão a base teórica para a reflexão
desta investigação iluminando os olhares sobre as estruturas, condições,
padrões e dispositivos de poder que mantém a desigualdade, inferiorização,
racialização e discriminação existentes nestes campos: os territórios étnicos e
o Estado, abordando os conceitos de Colonialidade e os seus níveis para
perceber como estes movimentos assumem uma postura decolonial no seu fazer educação
escolar ao mesmo tempo em que, desenvolve uma leitura crítica do histórico de
colonização/dominação desses povos/comunidades. O objetivo é (re)construir a
partir dos dados e narrativas o percurso histórico do fazer educação escolar
nesses territórios identificando as estruturas de poder que atuam
historicamente entre esses grupos étnicos e que permanecem até os dias atuais
interferindo na construção da autonomia do seu território, da vida comunitária
e na gestão de suas escolas e dos seus fazeres e saberes acerca da educação,
bem como apontar quais foram as estratégias de resistência utilizadas que
permitiram a afirmação da identidade étnica que está na base da educação
intercultural/decolonial desses povos.
5. Título: Educação Escolar Indígena: traduções e embates no campo de sua
efetivação.
Nome do proponente: José da Cunha Júnior
Instituição: UFRPE/Fundaj - PPGECI
Resumo:
O desafio para a implantação e efetivação da Educação Escolar
Indígena-EEI em Pernambuco, coloca os povos indígenas diante de uma cultura
escolar que confere “à escola o quase monopólio da ação educativa,
desvalorizando os saberes não adquiridos por via escolar e […] contaminar as
modalidades educativas não escolares, modificando-as a sua imagem e
semelhança”2(Canário, p. 62). Vários estudos recentes na região nordeste,
analisam os processos de escolarização entre os diversos povos indígenas,
revelando como estes entendem a educação escolar e resignificam os sentidos da
instituição escola, do sistema educativo e do controle social que pretendem ter
sobre estes e seus processos de construção, ainda inacabados.
A afirmação de suas identidades étnicas como referência essencial nos
processos educativos dos povos indígenas, revela um desafio permanente onde os
conteúdos e práticas pedagógicas são significadas e traduzidas no campo da
interculturalidade, inevitável neste contexto, resultando em embates constantes,
onde o direito à educação, como pressuposto da cidadania, dialoga com a
identidade étnica diferenciada, resultando muitas vezes em percepções
distintas, apesar de um extenso conjunto de normas e legislações, entre o
estado e os povos, bem como a efetivação de uma escola diferenciada, que
necessita de insumos governamentais, escassos e intermitentes.
A autonomia conquistada pelos povos indígenas se revela na formulação do
que chamamos de Projeto Político Pedagógico-PPP, referência basilar das
escolas, onde organização, interculturalidade, território, toré e identidades
tornam-se uma base curricular que dialoga com as disciplinas de forma
transversal e complementar, configurando as especificidades inerentes a esta
modalidade educacional.
Como processo que busca a efetivação da EEI, necessitam das condições
ideais para sua consolidação, favorecendo desta forma as referências
necessárias para os ajustes e adequações da política de EEI, através das
traduções realizadas pelos povos indígenas.
6. Título: O BAOBÁ E O CURRÍCULO
Nome do proponente: Rui Mesquita (autor) Emeline Apolônia de Melo
(co-autor)
Instituição: UFPE
Resumo:
Tendo em mente a discussão acerca da (im)possibilidade de implementação
da lei 10.639/2003 nas escolas públicas brasileiras, discutimos as
potencialidades do que chamamos de currículo narrativo para dar possíveis
respostas a tal questão. Estabelecemos, nesse contexto, como objetivo geral,
formular os elementos basilares para a proposição de um modelo curricular
centrado na ação narrativa. Para percorrer esse percurso argumentativo, tomamos
como objetivos específicos: a) vislumbrar possíveis lógicas curriculares
presentes nas narrativas ao redor do Baobá; b) articular essa análise com as
proposições sobre um currículo centrado no direito ao narrar. Partindo de uma
articulação entre Alain Badiou e Ernesto Laclau, concluímos que a educação deve
reclamar um lugar entre a poesia e a política para ampliar os horizontes de
possibilidade desta última.
7. Título: Perfil dos professores nos estabelecimentos de educação indígena
de Pernambuco
Nome dos proponentes: Mauricio Souza/Allan Monteiro
Instituição: Fundaj
Resumo:
O objetivo deste trabalho é identificar o perfil dos professores de
ensino médio que atuam no âmbito das escolas de educação indígena no estado de
Pernambuco. Desde 1991 o Ministério da Educação desenvolve uma política
nacional de educação escolar diferenciada para os mais de 220 povos indígenas
atualmente existentes no país. Essa política se baseia na oferta de uma
educação escolar autônoma e diferenciada, com o objetivo de garantir a
recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades
étnicas e a valorização de suas línguas e ciências, bem como o acesso à
informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional. Nesse
sentido, a primeira etapa de pesquisa envolve a análise de dados secundários,
tais como os Censos de Educação Escolar realizados pelo Instituto de Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e as sínteses sobre educação escolar indígena
consolidadas pela secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade
e Inclusão (Secadi). A segunda etapa compreende o mapeamento e breve descrição
das escolas indígenas de nível médio no estado, com base nos dados da
Secretaria de Educação de Pernambuco. A análise das informações produzidas
resultará na elaboração do perfil mais recente do professor de ensino médio
indígena em Pernambuco, permitindo ainda observar sua transformação ao longo da
série histórica disponível. Por trata-se de uma pesquisa de iniciação
científica em fase inicial de execução, a comunicação abordará resultados
preliminares e hipóteses de investigação.
8. Título: EDUCAÇÃO (ESCOLAR) INDÍGENA E ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES SOBRE
O SEU UNIVERSO CONCEITUAL E SEUS DIÁLOGOS ATRAVÉS DA INTERCULTURALIDADE
Nome do proponente: Wellcherline Miranda Lima
Instituição: UNICAP/UFPE/UFRPE
Resumo:
O trabalho em destaque tem por objetivo elaborar algumas reflexões e
contribuições da Nova História Cultural em conjunto com a interdisciplinaridade
da Antropologia imergindo no campo da interculturalidade para a Educação
(Escolar) Indígena em parceria com o Ensino da História. Entende-se que a Nova
História Cultural examina tanto os objetos culturais produzidos, bem como os
sujeitos produtores e receptores de cultura, como também os processos que
envolvem a produção e a difusão cultural, os sistemas que dão suporte a estes
processos e sujeitos, e, por fim, as normas a que se conformam as sociedades
através da consolidação de seus costumes. O desenvolvimento das considerações
será analisado os conceitos como “práticas”, “representações” que chamamos
atenção para o dinamismo desses fenômenos, “comunicar” e “cultura” – neste
último caso como uma oportunidade para refletir sobre a confluência entre Nova
História Cultural e Antropologia sob o olhar deste último através de Clifford
Geertz e Marshall Sahlins. A cultura é cada vez mais percebida não apenas como
“dinâmica”, mas também como “internamente diversificada”. Os atores sociais são
compreendidos como capazes de circularem entre diversas alternativas, ou de se
utilizarem criativamente de um variado repertório de possibilidades culturais.
O raciocínio sobre os conceitos também se mostra como oportunidade para
examinar outras confluências entre a cultura e modalidades como o social, o
símbolo e da religiosidade dentro da etnia indígena. O meio do Ensino da
História através da interculturalidade promoverá o desenvolvimento da temática
história local e do espaço vivido, bem como de entendê-los a história do
presente ou de determinado passado. Além de procurar identificar a dinâmica do
lugar, as transformações, e articular esse processo às relações internas e
externas da etnicidade. Essas modalidades conduzem para a contribuição e o
fortalecimento do pertencimento da comunidade étnica através da prática na
Educação Indígena, bem como no âmbito da escolarização indígena.
VIII – A Imagem e a Pesquisa
Antropológica
Coordenadores: Emiliano Dantas (AESO) e Naylini Sobral (UFPE)
1. Título:REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE ENUNCIADOS FÍLMICOS NA
PESQUISA ETNOGRÁFICA
Nome do proponente: RAYANA MENDONÇA E THIAGO HORA
Instituição:UFPE/ UFS
Resumo:
Este trabalho propõe, em uma breve análise discursiva da imagem cinematográfica, refletir sobre os significados e significantes em
enunciados fílmicos de
caráter etnográfico, e a partir deles quais seriam as possibilidades
interpretativas do
público, levando em consideração o possível reducionismo empregado pelos
códigos e
signos linguísticos e sob quais circunstâncias a subjetividade dos
sujeitos é afetada pela
imagem, assim como a construção da imagem é afetada pela subjetividade
dos sujeitos.
Nestes termos, este trabalho busca identificar uma série de variáveis
que mistificam a
representatividade bem como a significação do real na produção de filmes
etnográficos.
2. Título: Mulheres Indígenas em Recife
Nome do proponente: Camila Vasconcelos Meneghini
Instituição: UFPE
Resumo:
As mulheres indígenas habitantes do Recife se estabelecem na cidade por
diferentes motivos, entre eles algumas são estudantes que buscam um
conhecimento acadêmico científico para a sua formação profissional, essas são
estimuladas desde cedo a prestarem vestibulares. Há também uma grande
quantidade de mulheres que deixam as suas aldeias com o intuito de empregar-se.
Esses trabalhos normalmente se iniciam voltados as suas respectivas culturas,
(arte indígena, dança e música), no entanto, nem sempre elas conseguem
estabelecer-se aqui com essas ocupações e necessitam de outras atividades.
Na cidade as mulheres fazem contato com outros indígenas e constroem uma
rede de relações que são facilitadores. Elas estão em frequente fluxo com a sua
aldeia, pensar tal fluxo é refletir sobre novas mobilidades no mundo
contemporâneo, visto que a constante relação com a aldeia muitas vezes
transpassam os territórios geográficos. Desta forma, Recife, se estabelece como
espaço que possibilita novos vínculos pessoais que auxiliam na busca por um
conhecimento científico ao passo que podem ser encarados como a possibilidade
de perceber-se enquanto diferente dos outros moradores e iguais aos seus
“parentes” aldeados.
O registro imagético foi instrumento metodológico importante para
refletir o campo, tendo em vista que ele permite acionar as memórias das índias
e registrar momentos significativos para o grupo. Através das imagens foi
possível perceber os aspectos e situações nos quais elas querem ser vistas. As
fotografias colhidas em campo foram majoritariamente fruto de uma negociação
entre nós e os sujeitos, visto que a presença da câmera fotográfica implica a
permissão e consequentemente uma negociação, ao menos subjetiva, entre as
mulheres indígenas presentes. Na pesquisa, a fotografia foi também uma forma de
contar uma realidade, do nosso ponto de vista, a cerca dos encontros dessas
índias em Recife, e mostrar a interação delas em suas aldeias de origem e os
espaços nas quais querem se mostrar.
3.Título: O habitus sueco: reflexões sobre filme “Saraband” de Ingmar
Bergman
Nome do proponente: Naylini Sobral Barboza
Instituição: UFPE
Resumo:
Este resumo trata-se de uma reflexão sobre o processo de construção do
habitus sueco que o cineasta Ingmar Bergman apreendeu e evidenciou em sua obra
cinematográfica, particularmente no filme “Saraband” (2003). Para tal análise,
ancorei-me em uma metodologia de natureza etnográfica (GEERTZ, 2012), na qual
busquei levantar e analisar determinados padrões de comportamento, para mapear
o cenário sociocultural no qual Bergman esteve imerso. Meu aporte teórico-
metodológico para fazer a interlocução entre a sociedade sueca e o cineasta,
através da película “Saraband”, são os conceitos analíticos de Nobert Elias
(1993, 1994, 1995, 1997, 2001, 2006, 2011): configuração, individuação e
habitus. Para compreender a interlocução entre o processo de construção do
habitus sueco e Bergman, fiz um levantamento bibliográfico sobre a história
sociocultural e política da Suécia, bem como da trajetória do cineasta. A
escolha do filme “Saraband” se deu por ser o último dirigido e escrito pelo
cineasta, aos 84 anos, onde percebi uma condensação dos temas abordados pelos
seus filmes anteriores. Ao tratar do reencontro do antigo casal Marianne e
Johan, que não se viam a mais de 30 anos, Bergman faz ressurgir à cena as
dificuldades de comunicação entre as pessoas, a solidão, o medo da morte e o
silêncio de Deus. Considero que, estes elementos na sua obra podem ser
compreendidos como resultado do processo de construção do habitus sueco em que
a individuação preza pelo controle emocional (autocoerção), onde expressões
emocionais do indivíduo devem ser controladas num processo de socialização
silenciosa (FRYKMAN & LÖFGREN, 2008). Esta forma de socialização levaria à
uma sensação de teatralização e distanciamento nas relações, onde o indivíduo
se percebe fechado em si.
Palavras- chave: Bergman, Suécia, Saraband.
4.Título: O cinema emergente de Tony Gatlif
Nome do proponente: Berlano Andrade
Instituição: PPGA-UFPE
Resumo:
Procuraremos neste trabalho analisar como a experiência cinematográfica
pode operar como valorizador de uma diferença que é invisibilizada. Se, como
afirmar Arturo Escobar (2010), a colonialidade atua em suprimir de forma
sistemática conhecimentos e culturas subordinadas, os movimentos que permitam
fissurar esta realidade são também os que contrapõem epistemologias e mobilizam
agentes dotando-os, através do auto reconhecimento, de possibilidades de
incidir na estrutura social em que vivem. Assim, faremos uso de dois
filmes do cineasta franco-argelino Tony Gatlif, Je suis né d'une cigogne (1998) e Exils (2005), de forma a procurar
estabelecer mediações entre os contextos fílmicos e extra-filmicos. Faremos
isso exatamente porque este autor incorpora uma proposta de cinema que
poderíamos chamar de subalterno. E o faz não apenas pelo conteúdo
como também pela forma e é isso que o dota de uma potencialidade importante.
Gatlif, ele mesmo filho de um pai kabyle e mãe cigana, valoriza em seus filmes
personagens que são invisibilizados, quando não tratados como ameaça, no
interior da sociedade ocidental: ciganos, árabes, mulçumanos, etc. Pessoas que
integram o cotidiano dos países europeus, mas que têm suas condições relegadas
a uma sub cidadania, quando não passíveis de serem eliminados tanto social como
fisicamente. Estes sujeitos irrompem nos filmes de Gatlif escovando a
contrapelo (Benjamin) a realidade. Lançam luz, ao mostrar tramas de suas vidas,
aspectos que são encobertos de uma constituição que é relacional, ou seja, que
fundamenta a existência do tipo ideal de pessoa no Ocidente. Como o próprio
Gatlif afirma, seu cinema é de intervenção, pelo povo, contra os estereótipos e
que isso só é possível conhecendo por dentro estes. A chave para compreender
sua obra está em articular o sentido da sua abordagem ante uma configuração das
relações étnicas, religiosas e de classe na sociedade capitalista e como ele o
faz transgredindo, apropriando e resignificando uma estética que o auxilia a
dotar seus personagens de performatividade e ponto de vista próprios.
5.
Título: Desenvolvimento de um cinema de interpretação da
alteridade:
Proponente: Bernardo
Fortes
Instituição: PPGA/UFPE
Resumo:
Da
mesma forma que a etnografia empreendeu uma reflexão acerca da
relação sujeito/objeto), o documentário também viveu momento
semelhante que desencadeou um estado de incerteza em papéis que
antes estavam solidamente definidos. Anteriormente, o
documentarista seguia uma “fórmula padrão” onde sabia
exatamente quem era seu objeto e o que dele queria. Tudo era
perfeitamente bem delimitado. Esse modelo diluía o interesse pela
alteridade, uma vez que engessava o personagem e determinava a priori
a imagem que deveria ser capturada. Essa imagem pré-estabelecida
poderia ser alcançada através de perguntas calculadas e pela
liberdade propiciada pela montagem - garantindo que, no produto
final, a narrativa imaginada pelo diretor pudesse ser
realizada.Levanto essas considerações com a intenção de mostrar a
inexistência da neutralidade que um dia se imaginou existir no
documentário, por meio da qual seria possível capturar fielmente a
realidade. A reflexão permite questionar essa pretensa busca por
apreender o real, como também a relação desigual que é
estabelecida no documentário. Entendo que a crise vivida pela
etnografia é ilustrativa para pensar o documentário por perceber
que existem semelhanças nessas duas formas de construir narrativas
sobre o Outro. Na história da formação da antropologia a
escrita etnográfica ganhou o status que gerou a confiança, por ela
seria possível o entendimento de sistemas culturais dos povos
tradicionais. Neste primeiro momento, a tarefa do etnógrafo se
assemelha muito a do documentarista, aja visto que o primeiro, com
seu caderno de anotações vai transcrever e trazer ao ocidente os
costumes da vida de comunidades “exotiscas”. O sentimento de
confiança que atribuía à etnografia a capacidade de transcrever
culturas tal quais essas eram (alcançado a funcionalidade e os
sentidos de cada rito) vai sendo questionado. O que garantiria tanta
segurança na capacidade do etnógrafo de atingir as profundezas de
um sistema cultural e interpreta-lo?